Tiago, Irmão de Jesus
O Senhor Jesus teve vários irmãos biológicos, isto é, filhos do casal Maria e José. O que diz a Bíblia:
“Não é este o filho do carpinteiro? E não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos Tiago, e José, e Simão, e Judas? E não estão entre nós todas as suas irmãs? De onde lhe veio, pois, tudo isto? (Mt 13.55-56; Mc 6.3). Quatro homens e pelo menos duas mulheres foram os irmãos de Jesus.
O texto, por sua clareza, dispensaria maiores comentários. Maria conservou-se virgem até o nascimento de Jesus; [José] “não a conheceu até que deu à luz seu filho, o primogênito; e pôs-lhe por nome Jesus” (Mt 1.25). “Conhecer” traduz-se como ter relações íntimas. A Bíblia [católica] de Jerusalém, contendo a chancela do então arcebispo de S.Paulo, Paulo E. Arns, datada de 1980, reconhece tal fato ao comentar que “o texto não considera o período ulterior e por si não afirma a virgindade perpétua de Maria, mas o resto do Evangelho, bem como a tradição da Igreja, a supõem”. Isto é, a tradição supõe uma coisa, a Bíblia diz outra. Não é correta a afirmação de que “o resto do Evangelho supõe” o contrário. Não há contradição na Bíblia. Fiquemos com a Palavra.
Outra Bíblia aprovada pelo Vaticano apresenta comentário semelhante: “Enquanto (ou até que): esta palavra portuguesa traduz o latim donec e o grego heos ou, que por sua vez estão calcados sobre a expressão hebraica ad ki que se refere ao tempo anterior a esse limite, sem nada dizer do tempo posterior, cf. Gn 8.7; Sl 109.1; Mt 12.20; 1 Tm 4.13. A tradução exata seria: “Sem que ele a tivesse conhecido, deu à luz...”, pois a nossa expressão “sem que” tem o mesmo valor” (Bíblia Sagrada, Edição Ecumênica, tradução do padre Antonio Pereira de Figueiredo; notas e dicionário prático pelo Monsenhor José Alberto L. De Castro Pinto, Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro; edição aprovada pelo cardeal D. Jaime de Barros Câmara, Arcebispo do Rio de Janeiro; BARSA, 1964).
Referida Bíblia confirma o que foi dito na Bíblia de Jerusalém, isto é, que a Palavra nada diz sobre a virgindade APÓS o nascimento de Jesus. Enquanto não nasceu Jesus, José não a conheceu. O texto não considera o período posterior ao nascimento. Em outras palavras, a Bíblia não confirma a doutrina da virgindade perpétua de Maria. Outro texto:
“Depois, passados três anos, fui a Jerusalém para ver a Pedro, e fiquei com ele quinze dias. E não vi a nenhum outro dos apóstolos, senão a Tiago, irmão do Senhor (Gl 1.18-19). Aqui vemos a distinção entre ser apóstolo do Senhor e ser irmão. Encontramos também essa distinção em 1 Co 9.5: “Não temos nós direito de levar conosco uma esposa crente, como também os demais apóstolos, e os irmãos do Senhor, e Cefas?”.
Vejamos mais esse relato de um historiador que viveu entre 263 e 340 d.C.:
“Ainda viviam da família de nosso Senhor os netos de Judas, chamado irmão de nosso Senhor de acordo com a carne. Esses foram delatados como pertencentes à família de Davi...”; “Durante esse tempo, a maior parte dos apóstolos e discípulos, o próprio Tiago, o primeiro bispo da cidade, em geral chamado irmão de nosso Senhor, ainda vivo em Jerusalém...”; “Após o martírio de Tiago e a captura de Jerusalém, que se seguiu de imediato, registra-se que os apóstolos e discípulos de nosso Senhor que ainda viviam juntaram-se de todas as partes com os que eram parentes de nosso Senhor de acordo com a carne. Eles se consultaram para determinar a quem deviam julgar digno de suceder Tiago” (História Eclesiástica, Eusébio de Cesaréia, pp. 89, 93 e 97). Ou seja, filhos e netos de Maria, e demais parentes distantes, entraram em acordo para escolher um substituto para Tiago no episcopado. Entenda-se “irmãos ou parentes na carne” como gerados de uma mesma raiz: Maria e José.
O historiador Flávio Josefo, em História dos Hebreus, à página 465, CPAD, 2001, também faz referência a Tiago: “Ele aproveitou o tempo da morte de Festo, e Albino ainda não tinha chegado, para reunir um conselho, diante do qual fez comparecer Tiago, irmão de Jesus, chamado Cristo”.