Ovelhas-Marionetes


         Quando olho para as multidões que invadem os templos das igrejas dos movimentos evangélicos que mais crescem no Brasil, vejo cada uma daquelas pessoas como ovelhas-marionetes. Pessoas que estão ligadas às linhas invisíveis das maquinações de homens e mulheres que parecem tentar transformar a Igreja em um grande palco para suas bem sucedidas “emprejas”.
         Creio em milagres, em manifestações sobrenaturais, em libertação e todas as outras evidências do poder de Deus. Não tenho problema nenhum com nada disto. Minha indignação é contra aqueles que usam e abusam destes temas para atrair os incautos, como se só em suas igrejas ou em suas concentrações, e sob seus comandos estas coisas acontecessem! “A mão de Deus está aqui!”, reza o jargão de um homem que está fazendo o maior sucesso entre os moribundos, desesperados ou simplesmente entre curiosos e caçadores de bençãos. Mas, a mão de Deus está em todo lugar onde invocarmos Seu nome – não necessariamente dentro de um templo, igreja ou numa multidão! Onde há fé a mão de Deus está ali!
         Confesso que as maneiras como as pessoas são manipuladas chegam a me assustar e causar certa revolta. Há poucos dias, por exemplo, passei em frente a um salão onde funciona uma igreja e vi a imagem de um enorme pássaro com as asas abertas e disse ironicamente para minha esposa: “Olha um urubú em cima do púlpito!”. Ela me repreendeu dizendo: “Pára! É uma águia!”... Mas para mim, tanto faz urubú como águia, em cima de púlpito nenhum bicho diz nada com coisa nenhuma!
         Nem a Bíblia mais escapa! Vender Bíblia com a promessa de vitória financeira é o fim da picada! Só falta o apresentador dizer no bom carioquês: “Aquele irmão que não adquirir esta Bíblia tá ralado!”.
         Falar das promoções de livros (muitos deles de teologia dúbia) dizendo que a única intenção é “abençoar os irmãos” é estelionato, é 171! A gente sabe que no fundo tudo é muito lucrativo!
         Outra coisa que vejo, e que acho uma grande covardia, é o prazer masoquista que certos fazedores de milagres têm de colocar velhinhos caquéticos para desfilarem bambeando perante seus públicos! Isto sim é cruel... E depois? E depois... Aqueles velhinhos possivelmente voltarão para suas casas de muletas, ou em cadeiras de rodas! Mas, o que vale mesmo é a autopromoção, não importa se os velhinhos foram curados ou usados como gancho para o IBOPE...
         Vejo também com muita preocupação a concorrência mórbida na disputa do tipo “quem cura mais”. Penso que se vangloriar com resultados de exames médicos nas mãos e tripudiar sobre as igrejas concorrentes é mais que tosco: é obsceno!
         Aborreço-me só de ouvir aquelas vozes macilentas, cheias de engano que os televangelistas manipuladores fazem-nos ouvir em seus ridículos e insuportáveis programas supostamente interessados em “pregar o Evangelho” – diga-se de passagem, quase todos os referidos programas a meu ver até contém alguma coisa do Evangelho, mas são altamente poluídos pelas induções humanas, pelas falácias das doutrinas carregadas de heresias; pelas indulgências em forma de rosa, sal e óleos; além dos indecentes carnêzinhos supostamente milagrosos e das malditas campanhas e correntes, que nos dão a nítida impressão de que o interesse é a fidelização da clientela ávida por curas, prosperidade, soluções relacionais e outras “bênçãos” – as aspas aparecem aqui por que o que muita gente pensa que é benção pode ser maldição, conforme Malaquias 2.1 e 2:
 
“Agora, ó sacerdotes, este mandamento é para vós. Se não ouvirdes e se não propuserdes, no vosso coração, dar honra ao meu nome, diz o SENHOR dos Exércitos, enviarei a maldição contra vós, e amaldiçoarei as vossas bênçãos; e também já as tenho amaldiçoado, porque não aplicais a isso o coração.”  Malaquias 2.1-2

         Por outro lado, me aborreço também em ver naqueles programas e conhecer pessoas que dão sinais de que gostam mesmo de ser manipuladas e enganadas, pois algumas práticas são tão medonhas que até o mais cego dos cegos pode perceber, usando apenas a inteligência e o raciocínio que algumas coisas não têm nada a ver com a mensagem de Cristo ou dos Apóstolos.
         Como pode uma pessoa acreditar que é necessário tomar um copo com água supostamente abençoado por alguém que está apenas seguindo um roteiro de um programa muito bem projetado, seguindo apenas uma fórmula que “deu certo”? Aliás, aquilo é tão mecânico e tão estupidamente frio, que a gente percebe que os indivíduos já nem disfarçam mais a falsa comoção com a qual fazem o que vou chamar de “chantagem espiritual” – eles chamam de prece ou oração.
         Enfim, vejo também que as pessoas não se esforçam para buscar conhecimento nas Escrituras. Aí sim, elas entenderiam que sal grosso é muito útil em um bom churrasco, mas é totalmente inútil para possibilitar a benção de Deus?
         Por enquanto, vou continuar com meu inconformismo e indignação, vendo multidões de pessoas como marionetes, brinquedos fáceis de manejar sob as hábeis mãos dos empresários e marqueteiros da fé, os quais se multiplicam como uma praga em nossos dias!

Autor: Pastor Aécio Felismino