As Ofertas do Bem e do Mal na Solidão do Deserto


Quando estava prestes a iniciar seu ministério terreno, anunciando a chegada do Reino de Deus, Jesus é levado ao deserto e em quarenta dias de jejum e oração é confrontado por Satanás que lhe faz muitas propostas. A passagem é bem conhecida e recebe por título “A Tentação de Jesus” em todos os Evangelhos. Sempre que leio, penso em quanto esse momento foi decisivo para história da humanidade. Bastaria um sim de Jesus e todo o plano salvífico estaria fracassado. Bastaria um vacilo, um acenar de cabeça concordando com o diabo e tudo estaria consumado em desgraça e maldição para os homens.

O diabo não tem sucesso em suas investidas e Jesus, de forma objetiva, sem longos discursos,  pronunciando a Palavra de Deus, vence o mal e consuma na cruz do calvário a salvação que nos é dada. Na cruz, Ele resgata o que havia se perdido no Éden, quando Adão e Eva, dizem sim a serpente e acatam a sugestão diabólica de que “ sereis como Deus, sabendo o bem e o mal e não morrereis” :

“E vendo a mulher que aquela árvore era boa de se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento, tomou do seu fruto, e comeu, e deu também a seu marido, e ele comeu com ela”. Gn 3: 6

No deserto da Judeia, lugar seco, sem pomares, o diabo aparece usando elementos naturais, típicos do ambiente, para tentar Jesus: “transforma essa pedra em pão e come, porque estás com fome” Lucas 4:3. A árvore proibida do jardim, aquela que Eva já havia visto e rodeado tantas vezes, foi nela que a serpente se enroscou. Porque o mal não chega de forma espantosa, nos assombrando com suas propostas. Ele aparece em nossa rotina, no dia a dia, assim como uma tênue linha no tempo separando abismo e paraíso.

Na igreja, na família, no trabalho, em lugares de nosso convívio,  o mal aparece disfarçado de bem, porque sua essência é a mentira e quando domina sua presa, se revela como angustiante e terrível, mostra suas garras com objetivo tão somente de roubar e destruir  vidas: “porque não há verdade nele, e fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira” João 8:44. Ele não falou a verdade para Eva, nem para Jesus, também não falará para mim e para você.

Percebam que ao longo das narrativas Bíblicas, reais e proféticas, o mal tenta desviar os servos de Deus de seus caminhos, das promessas Divinas, fazendo-lhes propostas que aparentemente não apresentam perigos, pelo contrário, até soam bem como se fossem a melhor e mais agradável solução para o que de maior aflige o coração. Isso mesmo, o mal escolhe “o ponto fraco, o calcanhar de Aquiles” e ali destila seu veneno, aos poucos, até nos fazer acreditar que o que vivemos, é de fato a melhor das opções. Foi assim com Adão e Eva, com Moisés, com Abraão, com Davi, com sansão, com Jesus, com apóstolo Paulo.

Não nos enganemos, essa história ainda não terminou, eu e você somos alvos das estratégias malignas de Satanás que dia após dia é encarregado de nos desanimar,  a fim de que façamos escolhas erradas, segundo as necessidades que nos afligem. Moisés teve que optar entre ser chamado “filho da filha de faraó e viver no luxo do palácio a ser mensageiro de Deus conduzindo os israelitas no deserto” (Hb 11:24,25).

A promessa para Sara e Abraão era sobre Isaac, mas antes disso, existiu Agar e Ismael (Gn 16). O que dizer de Davi com Betseba? Ela apareceu para ele, por entre as janelas do palácio, banhando em seu quintal e Davi deu uma primeira olhada, e mais uma, e mais uma, até por fim ser vencido ( II Samuel 11: 1-27). Sansão foi enganado por Dalila, aquela que parecia ser um grande amor. Apaixonado, Sansão não percebe que ela havia sido contratada com o fim específico de destruí-lo. Sansão parecia mesmo está vivendo um paraíso, mas o fim, era o abismo, porque o diabo mente, até  dominar sua presa e revelar seu cativeiro.

O diabo não faz pacto de fidelidade com ninguém, essa não é sua essência. Ele faz o ladrão roubar e ainda ser preso para viver seu inferno. Faz o drogado se drogar e perder a confiança da sociedade. Um abismo leva a outro abismo (Salmo 42:7). Apóstolo Paulo, se tornou um homem de relevância para o cristianismo, antes disso, porém, mergulhou no abismo da religiosidade: “Mas o que para mim era ganho, reputei-o perda, por CristoJesus” ( Filipenses 3: 5-14)

É claro que o homem tem sua parcela de culpa pelos males cometidos, o diabo não é irresponsável sozinho. Mas a quem Deus deu o direito da escolha? Ao homem, e cada um está livre para escolher até mesmo não ser livre. E para cada proposta que nos é feita existe bem e mal:”Eis que hoje eu ponho diante de vós a bênção e a maldição;A bênção, quando cumprirdes os mandamentos do Senhor vosso Deus, que hoje vos mando; Porém a maldição, se não cumprirdes os mandamentos do Senhor vosso Deus, e vos desviardes do caminho que hoje vos ordeno, para seguirdes outros deuses que não conhecestes.” Deuteronômio 11:26-28. E só poderemos escolher entre bem e mal, se ambos se apresentarem para nós.

Jesus escolheu o bem quando o mal estava bem diante Dele. Escolher, é algo que tem inicio em nosso interior, por essa causa, diz ainda a palavra: “cada um é tentado quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência, depois, havendo a concupiscência concebido, dá a luz a pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte” (Tiago 1:14,15)

Os planos de Deus não se frustram

Sabem de algo incrível que percebi lendo os Evangelhos?! É que para cada proposta, feita a Jesus, por Satanás no deserto, Deus suscitou algo muito maior!  Não, não, as propostas feitas no deserto da Judeia, não eram o que de maior poderia ter acontecido a Jesus Nazareno! O diabo mentia para Jesus, o momento era grandioso, decisivo, mas o que ele propunha para Jesus era muito pouco, diante do que Deus havia reservado.

“Disse-lhe, então o diabo: Se és filho de Deus, manda que esta pedra se transforme em pão” (Lucas 4:3)

Jesus não transformou apenas uma pedra em pão, mas cinco pães foram multiplicados para mais de cinco mil pessoas. ( Lucas 9:10-17) Ele não quis matar a própria fome, mas a fome da humanidade, sendo Ele mesmo O Pão da vida ( João 6:35).

“Disse-lhe o diabo: Dar-te-ei toda esta autoridade e a glória desses reinos, porque ela me foi entregue, e a dou a quem eu quiser. Se me adorares, tudo será teu” (Lucas 4:6-7)

O mundo jaz do maligno e ele domina o presente século ( I João 5:19), mas Jesus recebeu de Deus autoridade para dissipar as trevas, vencer o maligno, através da obediência ao Pai e do amor por nós. Ele é o Nome que está acima de todo nome, autoridade e poder para salvação, somente em Jesus Cristo se encontram  ( Lucas 4:32, 5: 24).

“Mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens;E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz. Por isso, também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu um nome que é sobre todo o nome; Para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra,e toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai.” Filipenses 2:7-11

“Se és o filho de Deus, atira-te daqui abaixo, porque está escrito: Aos seus anjos ordenará a teu respeito que te guardem; e eles te sustentarão nas suas mãos para não tropeçares em alguma pedra”. Lc 4: 10-12.

Primeiro o diabo leva Jesus para um lugar muito alto e depois pede que Ele se jogue de lá. A glória do mundo traz infelicidade. Alcançar fama e sucesso pode ser prazeroso. O status, reconhecimento, louvores, dinheiro e tudo o mais sem a presença de Deus na vida é como esse abismo proposto por Satanás, e quantos não o vivem?

Jesus não buscou a glória do mundo, mas recebeu fama e glória pelas mãos de Deus. E sabe o que me chamou à tenção? É que os fariseus quiseram jogar Jesus de cima de um monte em Jerusalém, eles estavam revoltados com a fama alcançada por Jesus, com as tantas vidas que estavam sendo curadas. Os fariseus estavam perdendo lugar, atenção, sendo relegados e feridos naquilo de que mais se orgulhavam: Religião.

“ E, levantando-se, expulsaram-No da cidade e o levaram até o cimo do monte sobre o qual a cidade estava edificada, para de lá o precipitarem abaixo, mas Jesus passando por entre eles, retirou-se” Lc 4:29-30. Um acontecimento narrado imediatamente após a tentação do deserto. Os corações dos fariseus estavam cheios de raiva e também inflamados pelo diabo. O cristão que se entrega inteiramente ao serviço do Reino de Deus, irá encontrar oposição. Quanto maior a obra, maiores os inimigos. Apóstolo Paulo confidenciou nas epístolas: “porque uma porta grande e eficaz se me abriu;e há muitos adversários” I Cor 16:9.

Jesus não tropeçou em pedra alguma, mas Ele mesmo foi ( É) a Pedra em que muitos tropeçam.(Atos 4:11) quando não creem, quando O rejeitam. Ele foi morto e ressuscitado, e por essa o diabo não esperava. Ele pensou haver derrotado Jesus, escarneceu Dele em todo o tempo ao caminho da cruz: “ se tú és o rei dos judeus, salva-te a ti mesmo” (Lucas 23:37). Quanta semelhança entre a fala dos soldados romanos e a do diabo no deserto. Mas Jesus não precisava provar que era filho, Ele sabia que era.

A voz do mal

Sempre tenta nos afastar do amor de Deus, colocar dúvidas em nossa mente sobre o amor que nos salva ( Jesus Cristo). O mal se apresenta como o pão, em tempos de fome. Como saber discernir? Como escolher o que vem de Deus? Nenhum de nós está livre de escolhas erradas, eu já errei. Já me enganei entre bem e mal. Entre vontade humana e direção Divina. Sei que não sou super e que super-homens não existem, a não ser na teoria de Nietzsche e nas telas do cinema. E estes, são igualmente miseráveis porque representam uma utopia. O homem não pode viver sem Deus e o super do cinema, sequer voa, a não ser quando sustentado por cabos de aço.

Necessitamos buscar a Deus todos os dias, como se fosse nosso último dia de vida. Porque é no deserto que bem e mal se encontram, é em um coração humilde e contrito, totalmente dependente de Deus, que se ouve Sua vontade. A maravilhosa notícia é que perto de Deus, erros nos transformam em pessoas mais fortes e melhores, não como uma doutrina de carma ou evolução, como creem algumas religiões, mas em pessoas mais próximas do Filho Jesus, por amor e temor ao Pai.

Erros, podem ser perdoados, e o são a todo que pede perdão e se arrepende. Mas as consequências existirão. Abraão sofreu as consequências de uma escolha errada, Ismael filho de Agar, provocou tantas desavenças e conflitos que perduram até nossos dias. Davi, pelo pecado do adultério, pagou caro, muito caro: viu morte e desgraça em sua família. Sansão perdeu literalmente a visão porque a visão do Reino já lhe era perdida. Mas a todos esses, Deus ressuscitou sonhos e promessas. Os fez acreditar novamente, porque as misericórdias do Senhor, se renovam a cada manhã e não têm fim ( Lm 3:22). Porque os planos de Deus não se frustram, na vida dos que O amam e O buscam com todo o coração. Selá.

Não tenhamos medo

De renunciar ao mundo e recebermos a Jesus Cristo em nosso coração. O que Ele tem a nos oferecer é maior e melhor que toda proposta do mal. Olhemos para a tentação no deserto, ela nos diz que mesmo que sejamos fracos, a Palavra de Deus nos torna fortes. “Porque o Senhor é a minha força”. ( Habacuque 3:19) . Quarenta dias sem comer e sem beber, o corpo fraco, mas o espírito forte, porque estava alimentado com a Palavra de vida, a Única capaz de livrar o homem do inferno e da morte eterna, a Única capaz de nos dirigir com segurança nas escolhas da vida. A Palavra, é o maior sinal de que Deus nos ama e Se revelou para humanidade, através de Jesus. Lembremos que bem e mal se encontram no deserto, da vida e da morte. Bem e mal, sobre essas escolhas está firmada nossas vidas.

Deus o abençoe.

| Autor: Wilma Rejane | Divulgação: EstudosGospel.Com.BR |