A Imortalidade da Alma - Parte 1
A doutrina aniquilacionista defende cessação total da vida no ato da morte. A alma, princípio vital sucumbe com o corpo na sepultura. Ao descer ao pó, o homem, desaparece por completo. Todavia, segundo essa teoria, os justos ressuscitarão no tempo oportuno e voltarão à condição original de alma vivente. O castigo dos ímpios seria o de não viverem para sempre com Jesus. A morte para estes seria realmente a separação eterna de Deus. Neste caso, não haveria os diferentes graus de castigo, segundo as obras de cada um. “O aniquilacionismo defende que, após a morte, a alma do ímpio não será punida eternamente num inferno literal, mas, ao invés disso, simplesmente deixará de existir. O aniquilacionismo constitui um meio termo entre o universalismo indiscriminado e a doutrina cristã tradicional da condenação eterna. É defendido pelas testemunhas de Jeová, pelos adventistas do sétimo dia, pela Igreja Mundial de Deus, e muitos outros grupos religiosos em atividade atualmente” (Dicionário de Religiões, Crenças e Ocultismo, George A. Mather). O Antigo Testamento é pouco elucidativo quanto à vida após a morte. É no Novo Testamento que vamos encontrar indicações mais claras a respeito do assunto. Comecemos pela formação do homem no Éden, onde pela primeira vez, a palavra alma é registrada: “Formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou-lhe nas narinas o fôlego da vida, e o homem tornou-se alma vivente. Então da costela que o Senhor Deus tomou do homem, formou a mulher, e a trouxe ao homem” (Gn 2.7,22). Deus criou os animais sem soprar em suas narinas e os chamou de “répteis de alma vivente [criaturas que vivem e se movem]” (Gn 1.20,21), diferentes do homem que recebeu o fôlego diretamente de Deus. Os seres humanos possuem, portanto, algo que veio diretamente da substância de Deus. A esse fôlego damos o nome de alma. Vejamos agora o significado das palavras “alma” e “espírito” no hebraico e no grego, línguas originais do Antigo e do Novo Testamento, respectivamente. Alma, hebraico “nephesh”. Significados principais: alma, ego, vida, pessoa, coração; refere-se à essência da vida, ao ato de respirar, tomar fôlego. Alma, grego psyche. Significados principais: a vida natural do corpo; vida; a parte imaterial, invisível do homem, o homem interior (Mt 10.28; At 2.27; 1 Rs 17.21). Espírito, hebraico “ruah”. Significados principais: respiração, ar, força, vento, brisa, ânimo, humor, Espírito. Vejamos alguns exemplos: respiração que, quando volta, a pessoa é reavivada: “E [Sansão] bebeu [água]; e o seu espírito [literalmente, respiração] tornou, e reviveu” (Jz 15.19); elemento de vida no homem, o seu “espírito” natural: “E expirou toda carne que se movia sobre a terra [...] Tudo o que tinha fôlego de espírito de vida em seus narizes” (Gn 7.21.22). Estes versículos dizem que os animais também possuem “espírito”, porém o homem recebeu o “fôlego” de forma diferente. Espírito, grego pneuma. Significados principais: vento, respiração; parte imaterial, invisível do homem (Lc 8.55; At 7.59; 1 Co 5.5; Tg 2.26); o Espírito Santo; o homem interior, com relação aos crentes; os espíritos imundos, demônios; o corpo da ressurreição (1 Co 15.45; 1 Tm 3.16. 1 Pe 3.18). (Fonte: Dicionário VINE, W.E.Vine, Merril F. Unger, William White Jr., CPAD, 2002, 1a. Edição). Em Isaías 26.9 o profeta apresenta nephesh e ruah como sinônimos: “Com minha alma te desejei de noite e, com o meu espírito, que está dentro de mim, madrugarei a buscar-te”. Parece indicar que a alma está ligada aos sentimentos (“te desejei”), sendo o espírito o elemento vital de comunicação com Deus. A Bíblia não faz uma nítida distinção entre alma e espírito. Maria, mãe de Jesus, orou assim: “A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegra em Deus meu Salvador” (Lc 1.46-47). Jesus, no Getsêmani: “A minha alma está profundamente triste, numa tristeza mortal” (Mt 26.38). Na cruz, Ele bradou: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23.46). Por isso, para efeito deste trabalho, chamaremos de alma ou espírito a parte imaterial que se separa do corpo na hora da morte. A alma foi doada ao homem no momento de sua formação, conforme Gênesis 2.7, onde se lê que o homem tornou-se “alma vivente”. A condição expressa no verso 17 – “certamente morrerás” – sugere uma imortalidade humana. Subtende-se que se o primeiro casal não comesse do fruto proibido, não passaria pela morte física nem perderia a comunhão com o Criador. O primeiro casal não morreu logo após desobedecer, ou seja, não desceu ao pó, mas ficou potencialmente sujeito à morte física. Contudo, a sua morte espiritual foi imediata (Gn 3.7-13). Depois que o pecado afetou de forma negativa a raça humana, passou a haver separação da pessoa, na morte, em corpo, que volta à terra, e em espírito que volta a Deus (Ec 12.7). Analisemos Eclesiastes 12.7-NVI: “O pó volte à terra, de onde veio, e o espírito volte a Deus, que o deu”. Aqui temos um pouco mais de luz. O pneuma-espírito não desce à sepultura. Ele é parte inerente ao homem, mas não o é do corpo sem vida. Na morte há uma separação. Os contradizentes argumentam que se todos os espíritos voltam a Deus, então, como defende o universalismo, todos se salvam. Tal argumento não deve prevalecer. Basta ler o verso anterior: “Lembra-te dele [do Criador] antes que se rompa a cadeia de prata [antes que a morte chegue]” (v.6). É nessa condição de homem arrependido e voltado para Deus, que a alma imortal, separada do corpo na hora da morte, “volta para Deus, que a deu”. O contexto ressalta a fragilidade da vida do homem que vive sua vida sem temer a Deus, sem sequer se lembrar do seu Criador, sem nenhuma preocupação com a vida espiritual futura. A imagem de um corpo que se transforma em pó contrasta com a situação de vaidade e orgulho dos que não se submetem à vontade do Criador. Eclesiastes 12.7 mostra que a alma é imortal, e não morre com o corpo, nem com o corpo dorme na sepultura, mas segue imediatamente para Deus. Dando mais luz ao contido em Gn 3.19 e Ec 12.7, Jesus disse que quando descemos ao pó a nossa parte imaterial e invisível sobrevive, não morre: “E não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei antes aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o corpo” (Mt 10.28 – Trinitariana). Seus discípulos aprenderam a lição. Sabiam que a morte não era o fim de tudo. Herodes poderia degolar João Batista, mas jamais poderia extinguir a sua alma. Pedro poderia ser crucificado de cabeça para baixo; outros poderiam ser brutalmente assassinados, mas suas almas permaneceriam intocáveis. Jesus não deixa dúvida quanto à imortalidade e sobrevivência da alma. Por isso, na parábola, disse que "Lázaro morreu e foi levado pelos anjos para o seio de Abraão". O rico, que vivia na opulência, poderia até ter tirado a vida do mendigo, mas a alma deste não seria atingida. Conhecedor desta verdade, o apóstolo Paulo afirma que “para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho... mas de ambos os lados estou em aperto, tendo desejo de partir e estar com Cristo, porque isto é ainda muito melhor” (Fp 1.21-23). Estava Paulo realmente consciente de que iria apodrecer no sepulcro e nada dele sobraria até a ressurreição? Neste caso não haveria qualquer lucro imediato. Melhor seria continuar vivo e pregando o Evangelho. Mas ele tinha a promessa do Autor da Vida: a sua alma não morrerá. “Partir e estar com Cristo” transmite uma idéia de trânsito sem interrupção. Esta interpretação se torna mais consistente quando consideramos Lucas 23.43, 46, e Atos 7.59. O EXTERMÍNIO DOS ÍMPIOSOs mortalistas alegam que se os que morrem em Cristo seguem diretamente para o céu, por que motivo Deus os tiraria de lá para se unirem a seus corpos? Considerando que defendem a total extinção dos ímpios, respondemos com outra pergunta: “Por que Deus tiraria os ímpios de suas sepulturas (Ap 20.5) para em seguida aniquilá-los”? Eles já não estão mortos? Ora, na ressurreição do corpo – uns para a vida de eterna comunhão com Deus, outros para a eterna separação de Deus - ocorre uma recomposição alma-corpo, e o homem retorna à condição original de alma vivente (Gn 2.7), porém agora, quanto aos salvos, num estado de glorificação. Li em determinado endereço na internet que o objetivo da segunda ressurreição, a dos ímpios (Ap 20.5) é “simples regresso à vida, à vida física, prelúdio de destruição total e definitiva (Dn 12.2 – 2a parte)”. Vejamos o que diz o texto: “E muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna, e outros para vergonha e desprezo eterno” (Dn 12.2-Trinitariana). Os contradizentes desejam aniquilar a alma do homem, na morte, e também aniquilar os ímpios após a ressurreição destes. Mas o texto apresentado não aprova tal raciocínio. Os ímpios ressuscitarão “para vergonha e desprezo eterno”, ou seja, estarão eternamente envergonhados e desprezados, afastados de Deus. Jesus fala que os maus sofrerão a ressurreição “da condenação” (Jo 5.28,29). O inferno é lugar de “tribulação e angústia” (Rm 2.9) e de “pranto e ranger de dentes” (Mt 22.13; 25.30). Tais castigos só podem ocorrer em corpos vivos. A ressurreição dos ímpios dar-se-á para serem julgados e castigados segundo as más obras de cada um. É um exagero afirmar que a ressurreição dos ímpios é um “prelúdio” do extermínio. GRAUS DE CASTIGOA doutrina da pena de morte para os ímpios não consegue responder satisfatoriamente como serão aplicados os diferentes graus de castigo. Ora, se os ímpios sofrerem a pena capital, não haverá diferentes graus de punição. “Assim como haverá diferentes graus de glória no novo céu e na nova terra, também haverá diferentes graus de sofrimento no inferno. Aqueles que estão eternamente perdidos sofrerão diferentes graus de castigo, conforme os privilégios e responsabilidades que aqui tiveram” (Notas Bíblia de Estudo Pentecostal). Vejam os textos pertinentes: “Virá o Senhor daquele servo no dia em que o não espera e numa hora que ele não sabe, e separá-lo-á, e lhe dará a sua parte com os infiéis”. E o servo que soube da vontade do seu senhor e não se aprontou, nem fez conforme a sua vontade, será castigado com MUITOS AÇOITES. Mas o que a não soube e fez coisas dignas de açoites com POUCOS AÇOITES será castigado...” (Lc 12.46-48). “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que devorais as casas das viúvas, sob pretexto de prolongadas orações. Por isso, SOFREREIS MAIS RIGOROSO JUÍZO” (Mt 23.14-Trinitariana). (Mc 12.40 diz: “... Estes receberão juízo muito mais severo”; Lucas 20.47 diz “... Estes receberão maior condenação”). “De quanto maior castigo cuidais vós será julgado merecedor aquele que pisar o Filho de Deus, e tiver por profano o sangue da aliança com o qual foi santificado, e ultrajar o Espírito da graça?” (Hb 10.29). “Uma é a glória do sol, e outra, a glória da lua; e outra, a glória das estrelas; porque uma estrela difere em glória de outra estrela. Assim também a ressurreição dos mortos. Semeia-se o corpo em corrupção; ressuscitará em incorrupção. ” (1 Co 15.41,42). Os crentes fiéis receberão galardões: Mt 5.11,12; 25.14-23; Lc 19.12-19; 22.28-30; 1 Co 3.12-14; 9.25-27; 2 Co 5.10; Ef 6.8; Hb 6.10; Ap 2.7,11,17,26-28; 3.4,5;12,21. Os crentes menos fiéis receberão poucos galardões, ou nenhum (Ec 12.14; Mt 5.19; 2 Co 5.10). Ainda sobre o “extermínio dos ímpios, convém esclarecer que o verbo “perecer” em Mateus 10.28 não significa exterminar. Vejamos seu real significado no grego, língua original do Novo Testamento, tudo conforme o conceituado Dicionário VINE, de W.E. Vine, Merril F. Unger, William White Jr., CPAD, edição 2002, Rio. “Perecer”
1 - apollumi, “destruir”, significa, na voz média, “perecer”, e é usado acerca de:
(a) coisas (por exemplo, Mt 5.29.30; Lc 5.37; At 27.34 [em alguns textos piptõ, “cair”]; Hb 1.11; 2 Pe 3.6; Ap 18.14-segunda parte...
(b) pessoas (por exemplo, Mt 8.25; Jo 3.15, 16; 10.28; 17.12, “se perdeu”; Rm 2.12; 1 Co 8.11; 15.18; 2 Pe 3.9; Jd 11). Em 1 Co 1.18 [“Porque a mensagem da cruz é loucura para os que estão perecendo...”], literalmente, “perecendo”, onde a força perfectiva do verbo implica a conclusão do processo. Quanto ao significado da palavra, veja DESTRUIR”.
“Destruir”
1 - apollumi, forma fortalecida de ollumi, significa “destruir totalmente”; na voz média, “perecer”. A idéia não é de extinção, mas de ruína, perda, não de ser, mas de bem-estar. Isto é claro pelo uso do verbo, como, por exemplo, o estrago dos odres de vinho (Lc 5.37); a ovelha perdida, ou seja, perdida do pastor, estado metafórico de destituição espiritual (Lc 15.4,6, etc.); o filho perdido (Lc 15.24); o perecimento da comida (Jo 6.27), do ouro (1 Pe 1.7). O mesmo com relação às pessoas (Mt 2.13; 8.25; 22.7; 27.20); à perda da felicidade no caso dos não-salvos (Mt 10.28; Lc 13.3,5; Jo 3.15, em alguns manuscritos; Jo 3.16; 10.28; 17.12; Rm 2.12; 1 Co 15.18; 2 Co 2.15; 4.3; 2 Ts 2.10; Tg 4.12; 2 Pe 3.9).
2 - kataluõ, formado de kata, para baixo, elemento intensivo, e o n. 4, “destruir totalmente”, “subverter completamente”, é verbo que ocorre em Mt 5,17 duas vezes acerca da lei); Mt 24.2; 26.61; 27.40; Mc 13.2; 14.58; 15.29; Lc 21.6 (acerca do templo); em At 6.14, diz respeito a Jerusalém; em Gl 2.18, fala acerca da lei como meio de justificação; em Rm 14.20, da ruína do bem-estar espiritual de uma pessoa (em Rm 14.15, o verbo appolumi, n. 1, é usado no mesmo sentido). Em At 5.38,39, acerca do fracasso dos propósitos; em 2 Co 5.1, da morte do corpo”.
Portanto, nem sempre a expressão PERECER significa destruição, extermínio, eliminação do ser. Vejamos o que diz o evangelho sinótico de Lucas:
“Temam aquele que, depois de matar o corpo, tem poder para lançar no inferno” (Lc 12.5b-NVI-Almeida RC-Bíblia de Jerusalém-Trinitariana). “Tenham medo de Deus, que, depois de matar o corpo, tem poder para jogar a pessoa no inferno” (Lc 12.5b-BLH). Eis a Bíblia se explicando a si mesma. O sinótico de Lucas, para não pairar dúvidas, não usa o verbo apollumi-perecer, mas emballõ-lançar (separar, lançar, arremessar, atirar, jogar, lançar em). Ballõ-lançar é um sinônimo traduzido como lançar, arremessar, jogar (Mt 5.29; 18.8; Ap 2.10.24; 20.3,10,14,15). Então Mateus 10.28b deve ser lido assim: “...tem o poder para lançar no inferno alma e corpo”. Logo, lançar ou perecer no inferno não significa aniquilamento. Os mortalistas apresentam também o seguinte texto como prova do extermínio dos maus: “Os quais, por castigo, padecerão eterna perdição, ante a face do Senhor e a glória do seu poder” (2 Ts 1.9-Trinitariana). “Eles vão sofrer o castigo da destruição eterna e serão separados da presença do Senhor e do seu glorioso poder” (BLH). “Os quais padecerão, como castigo, a perdição eterna, expulsos da face do Senhor e da glória do seu poder” (Alfalit). Contestação – O versículo diz exatamente o contrário do que desejam os defensores da pena de morte. Os ímpios serão banidos da face do Senhor, para serem castigados (cf.Ap 20.10).“Destruição/perdição/banimento” (elethros) nesse caso, como já vimos, significa perda de bem-estar, ruína, separação eterna da comunhão de Deus, tal como já explicado a análise de Mateus 10.28b (“perecer no inferno”). Neste sentido é usado em Mt 7.13, Jo 17.12, 2 Ts 2.3. Adão foi expulso do Éden, banido da face do Senhor, e experimentou imediata perdição/morte espiritual. “Pois assim como em Adão todos morrem, também da mesma forma em Cristo serão vivificados” (1 Co 15.22). Ademais, o próprio texto diz: “separados/banidos” da presença do Senhor”. A advertência do Senhor continua válida nos dias de hoje. Se formos desobedientes, certamente morreremos (Gn 2.17). Mais um: “Porque eis que aquele dia vem ardendo como fornalha; todos os soberbos, e todos os que cometem impiedade, serão como a palha; e pisareis os ímpios, porque se farão cinza debaixo das plantas de vossos pés, naquele dia que estou preparando, diz o Senhor dos Exércitos” (Ml 4.1,3). “Todos os que praticaram a iniqüidade serão queimados” (Bíblia Alfalit). Contestação – Realmente, os ímpios serão destruídos. O texto fala de pessoas vivas que serão exterminadas no Dia do Senhor (“aquele dia”). Esses ímpios a serem aniquilados ressuscitarão no tempo devido (Jo 5.29; Ap 20.5). Depois, corpo e alma serão lançados no inferno (Mt 10.28; Lc 12.5), onde “serão atormentados dia e noite, pelos séculos dos séculos” (Ap 20.10,14,15). Malaquias 4.1,3 se coaduna com outras passagens que falam das últimas coisas. Vejamos: “Porque como um fogo purificador ele é...” (Ml 3.2-a); “Colocarei sinais nos céus e sobre a terra, sangue e fogo e colunas de fumaça” (Jl 2.30); “Os céus e a terra que agora existem, estão reservados para o fogo, guardados para o dia do juízo e da destruição dos ímpios (2 Pe 3.7). Um terça parte dos homens serão mortos ao soar da sexta trombeta, por fogo, fumaça e enxofre (Ap 9.15,17). No Dia do Senhor, no tempo em que Deus derramará seus juízos sobre a terra, os ímpios que existirem na terra experimentarão a primeira morte, a morte física. Depois da ressurreição, virá a morte eterna, a eterna separação de Deus (Ap 20.14,15;21.8; 22.15). Portanto, o texto sob análise não reforça a tese do aniquilamento. Dentro do mesmo contexto e interpretação estão os demais textos que falam em extermínio e perdição dos ímpios (Sl 34.16;37.9.10,38; 145.20. Fp 3.19). Em tais casos, “perecer”, “destruir”, “perdição” falam da destituição e alienação espirituais provenientes de Deus. São exemplos João 3.16 (“não pereça, mas tenha a vida eterna”) e Mateus 10.6 (“ovelhas perdidas da casa de Israel”). A tese do extermínio dos ímpios enfrenta outra dificuldade. Jesus revelou que os justos ressuscitarão “para a vida”, e os ímpios, “para serem condenados” (Jo 5.29); na carta aos romanos Paulo indica que “haverá tribulação e angústia para todo ser humano que pratica o mal” (Rm 2.9); em Daniel 12.2 lê-se que os ímpios ressuscitarão “para a vergonha e desprezo eterno”; Apocalipse 14.11 diz que não haverá descanso “nem de dia nem de noite” para os adoradores da besta; Apocalipse 20.10 anuncia que os que forem lançados no lago de fogo “serão atormentados dia e noite, para todo o sempre”; Jesus declara que os insensatos e hipócritas serão punidos severamente num lugar “onde haverá choro e ranger de dentes” (Mt 8.12; 24.51; 25.30), e onde estarão amarrados, em trevas, para todo o sempre (Mt 22.13). Convenhamos, defunto não chora, não se angustia, não range dentes, não passa por tribulação, não se atormenta, não sente vergonha ou desprezo. Logo, não deve prevalecer a idéia de que os ímpios serão exterminados. Deus não ressuscitará os ímpios para exterminá-los em seguida (Ap 20.5). Agiria assim para que morram “conscientes” da punição? De maneira alguma. É uma impropriedade alegar que a ressurreição é um prelúdio da morte. Reviver para morrer, sair da sepultura para, em seguida, retornar à sepultura – sinceramente, se trata de um pensamento que colide frontalmente com a Palavra. A ressurreição do corpo é para que viva; não para que morra. Não fosse assim, não haveria razão para ressuscitar os que já se acham mortos. Em resumo, a tese do extermínio dos ímpios é incompatível com a doutrina dos diferentes graus de castigo e contrária ao ensino da Bíblia. O assunto voltará a ser tratado mais adiante. DUALIDADE E SOBREVIVÊNCIA DA ALMAA separação alma-corpo por ocasião da morte está expressa, por exemplo, nas palavras de Jesus: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito. E, havendo dito isto, expirou”. Havendo morrido como homem, e não como Deus, a alma de Jesus também separou-se do seu corpo na morte. O primeiro mártir cristão, Estevão, também entregou seu espírito: “Senhor Jesus, recebe o meu espírito” (At 7.59). Salomão tinha razão quando disse que o corpo desce ao pó, mas o espírito segue seu destino (Ec 12.7), confirmando haver uma separação na hora da morte. “E disse [o ladrão] a Jesus: Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no teu reino. E disse-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso” (Lc 23.42,43). A declaração de Jesus ao ladrão arrependido é a mais clara aplicação da salvação pela graça, mediante a fé, conforme Efésios 2.8-9. Além disso, o texto revela a dualidade do homem, a separação e sobrevivência da alma por ocasião da morte. Tão grande pedra no caminho dos mortalistas não poderia deixar de ser rejeitada com muito alarido e pouca consistência. Apresentam as seguintes objeções, cabalmente refutáveis. Primeiro – Dizem que em algumas versões está escrito “quando vieres no teu reino”, e não “quando entrares no teu reino”. Assim, desejam convencer que a alma do ladrão não iria imediatamente para o céu, mas esperaria a volta de Jesus para ressuscitar. Contestação – (a) A segunda parte do texto dirime qualquer dúvida que possa existir com relação à primeira. Jesus declara que o ladrão arrependido subiria para o céu naquele mesmo dia. Em nenhuma hipótese devemos duvidar das palavras de Jesus, a menos que renunciemos à nossa condição de cristãos. (b) O ladrão arrependido passou a fazer parte do reino de Deus no momento em que aceitou o senhorio de Jesus. Sabendo que o ladrão morreria naquele mesmo dia, e que, na qualidade de salvo, sua parte imaterial iria para o céu, Jesus declarou sem rodeios: “Hoje estarás comigo no paraíso”. É muito provável que o ladrão não conhecesse o ensino da volta de Jesus. A interpretação mais provável, portanto, é “quando entrares no seu reino”. (c) De qualquer modo, Jesus nos ensinou que as almas dos crentes seguem direto para o céu. Com isto, o ladrão morreu com a certeza de se encontrar com Ele no paraíso. (d) A palavra grega erchomai é traduzida também como “vir” (Mt 2.2; 24.46), “ir” (Jo 20.1; 1 Co 4.19), chegar (Mt 8.14; 13.54), partir (Mc 8.10; 9.33). Em razão disso, algumas versões registram, “quando vieres no seu reino”, e outras, “quando entrares no seu reino”. (e) O ladrão leu a placa com a declaração em grego, romano e hebraico: “Este é o Rei dos judeus” (Lc 23.38) que fora colocada na cruz, teve certeza de que Jesus reinaria em algum lugar e manifestou o desejo de participar desse reino. Na verdade Jesus começou a reinar ali mesmo no coração do arrependido malfeitor. Então, quando estiveres, chegares, entrares no seu reinado, lembra-te de mim. Qualquer dúvida que possa subsistir desvanece diante da declaração de Jesus: “Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso”. Segundo – Os contradizentes alegam que na Tradução Trinitariana, em português, editada em 1883, pela “Trinitarian Bible Society” de Londres, Diz: “Na verdade te digo hoje, que serás comigo no Paraíso”. Contestação - A versão apresentada atende aos interesses dos contradizentes. É importante registrar que em edições mais recentes, em português, da SBTB – Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil, o versículo está redigido assim: “Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso”. Então, se torna inconsistente o argumento que defende a transcrição correta somente na edição de 1883, sem esclarecer o porquê de tal discriminação. Eleger uma versão em detrimento de outras, somente porque determinado registro atende a determinada crença, não me parece um sólido argumento. Terceiro – Alegam também, em defesa da inexistência da alma imortal, que “a expressão “hoje” ligada ao verbo não é redundante, mas enfática, tal como encontrada em Zacarias 9:12 e Atos 20:26. Justificam assim a versão “digo-te hoje: estarás comigo no paraíso”. Contestação – Devemos buscar a ênfase no contexto. Logo após garantir que o malfeitor estaria com Ele no paraíso, Jesus, para confirmar tal assertiva, entregou ao Pai seu próprio espírito. Os textos apresentados (Zc 9.12 e At 20.26) não servem para elucidar a questão. Vários exemplos podem ser citados em que inexiste a expressão “digo hoje”: “Em verdade vos digo que eles já receberam...” (Mt 6.2); “Em verdade vos digo que, entre os que de mulher têm nascido...” (Mt 11.11).
Quarto – Para contornar o problema, alegam que o ladrão não morreu naquele mesmo dia. Dizem que os crucificados passavam até sete dias sofrendo. Afirmam que “Cristo foi caso excepcional e que sabemos que não morreu dos ferimentos ou da hemorragia, mas do quebrantamento do coração. Morreu de dor moral por causa dos pecados do mundo. Mas os outros, não, e as crônicas descrevem o condenado esvaindo-se lentamente durante dias”. Alegam mais que “de acordo com o costume, quebravam as pernas dos criminosos depois de os haverem removido da cruz, deixando-os estendidos no chão, até que o sábado passasse. Depois do sábado haver passado, sem dúvida esses dois corpos foram outra vez amarrados na cruz, e lá ficaram diversos dias até morrerem..."
Contestação – Como não podem negar a morte de Jesus na sexta-feira, apelam por alongar a agonia dos malfeitores crucificados. Ao dizer que Jesus morreu de “dor moral”, negam a existência de hemorragia no Seu corpo, a asfixia, o enfraquecimento físico. Tal afirmação colide com diagnósticos de profissionais. O Dr. Barbet, médico francês, professor e cirurgião, que por treze anos viveu na companhia de cadáveres, após dissertar sobre o sofrimento de Jesus, dá o seu diagnóstico:
“Todas as suas dores, a sede, as cãibras, a asfixia, o latejar dos nervos medianos, lhe arrancaram um lamento: ”Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?". Jesus grita: “Tudo está consumado!". Em seguida num grande brado disse: "Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito". E morre”.
O Professor Pierluigi Baima Bollone diretor do Instituto de Medicina Legal da Universidade de Torino – Itália, relata em seu último livro, "Os últimos dias de Cristo". que a causa final da morte de Jesus foi “asfixia, complicada por ataque cardíaco terminal, e trombose coronária, ocorridas depois de poucas horas sobre a cruz, pois Jesus se encontrava fraco, devido as torturas recebidas. Todos estes dados são perfeitamente compatíveis com o que se lê nos evangelhos”. Vejamos o relato bíblico a respeito da morte dos ladrões:“Os judeus, pois, para que no sábado não ficassem os corpos na cruz, visto como era a preparação (pois era grande o dia de sábado) rogaram a Pilatos que se lhes quebrassem as pernas, e fossem tirados. Foram, pois, os soldados e, na verdade, quebraram as pernas ao primeiro e ao outro que com ele fora crucificado. Mas, vindo a Jesus e vendo-o já morto, não lhe quebraram as pernas” (Jo 19.31-33). Quebrar as pernas dos crucificados tinha o objetivo de apressar a morte. Sem o apoio dos pés, o corpo ficava seguro apenas pelos pulsos, o que causava forte pressão sobre o tórax. A morte viria rapidamente. Quinto – Alegam que Jesus não foi para o Pai logo após a morte. Apresentam como justificativa o que Jesus disse a Maria Madalena: “Não me detenhas, porque ainda não subi para meu Pai” (Jo 20.17 a). Sob a ótica da não sobrevivência da alma, dizem que Jesus devolveu ao Pai o sopro, a vida dele recebida. Assim explicam: “Era este fôlego que Cristo e Estevão não podendo reter, quando estavam prestes a expirar (e expirar significa soltar o fôlego, exalá-lo definitivamente), pediram ao Pai que o recebesse de volta. (Atos 7:59 e Lucas 23:46). Mas não era parte consciente, pois Cristo, dias depois, ressurreto, dissera: "Ainda não subi para Meu Pai."
Contestação – Creio que todas as afirmações de Jesus são verdadeiras. Os mortalistas se agarram na frágil argumentação segundo a qual o espírito de Jesus não subiu ao Pai porque Ele mesmo o revelou a Madalena (Jo 20.17). Somente em duas hipóteses Jesus não entregou seu espírito ao Pai. Primeira, Ele não falou isso, e os evangelhos mentem; segunda, de fato Ele entregou seu espírito, mas o Pai não o recebeu. Nenhuma dessas hipóteses é viável. “Não me detenhas, porque ainda não subi para meu Pai” diz respeito à subida de seu corpo ressurreto. Passados quarenta dias é que se deu sua ascensão corporal.
Na ótica dos mortalistas não existe separação entre corpo e espírito por ocasião do falecimento. Admitem que o retorno à vida, como no caso de Lázaro (Jo 11.43) e da ressurreição coletiva (1 Ts 4.16-17), é resultado de novo sopro de Deus.
Jesus e Estevão não entregaram um simples sopro, nem Jesus disse ao ladrão que o seu “sopro” estaria subindo para o céu juntamente com o seu próprio “sopro”. Nem sempre se pode traduzir psyche como “sopro”. Vejamos se seria possível tal construção:
“Não temais os que matam o corpo, e não podem matar o “sopro”; temei antes aquele que pode fazer perecer no inferno tanto o “sopro” como o corpo” (Mt 10.28).
Após a morte a alma continua existindo. Na sua visão apocalíptica, o apóstolo João validou essa realidade: “E, havendo aberto o quinto selo, vi debaixo do altar as almas dos que foram mortos por amor da palavra de Deus...e clamavam com grande voz...” (Ap 6.9-10). De nenhum modo se pode deduzir que os “sopros” dos mortos estavam vivos e conscientes. As “almas dos que foram mortos” estavam no céu, e oravam para que os ímpios que rejeitaram a Deus e mataram os seus seguidores recebessem a justiça divina. Para Apocalipse 6.9-10 os mortalistas afirmam que é tudo simbólico, mas depois apresentam uma bizarra interpretação: “Estas “almas” eram as pessoas vítimas da matança do cavaleiro chamado Morte, descrito no quarto selo. Queremos dizer que as "almas" que aparecem sob o quinto selo foram mortas sob o selo precedente, dezenas ou mesmo centenas de anos antes, portanto os perseguidores já estavam mortos, e ainda de conformidade com a teologia popular deveriam já estar no inferno, portanto já sofrendo a punição, sendo inócuo, pois, o clamor por vingança” Contestação – O que dizer de: “E vi almas daqueles que foram degolados pelo testemunho de Jesus...” (Ap 20.4)? Se são “almas das pessoas”, confirma-se a sobrevivência das almas, pois não há registro de que essas pessoas haviam ressuscitado. Se a Bíblia diz que eram almas dos mortos, então realmente o eram. Seriam elas o “sopro” dos que foram degolados?. Claro que não. A mensagem nos diz que as almas se separam dos corpos, e sobrevivem, conforme referendado em outros textos. Não procede o argumento de que as almas referidas são de pessoas que morreram centenas de anos antes. Esses eventos ocorrerão num período de sete anos, tempo de duração da grande tribulação, a “septuagésima semana de Daniel” (Dn 9.27;Ap 11.2; 13.5).
Em Lucas 16.22 está escrito, conforme palavras de Jesus, que o mendigo Lázaro morreu e “foi levado pelos anjos para o seio de Abraão”. A alma do injusto rico seguiu para um lugar de tormentos. O apóstolo Paulo desejou “partir e estar com Cristo, o que é muito melhor” (Fp 1.23). Esta afirmação denota mudança imediata, sem interrupção, sem intervalo. Demonstra que Paulo sabia que a sua alma entraria imediatamente na presença de Deus.
A imortalidade da alma não é doutrina estranha às sagradas Escrituras. Creio na verdade dita por Jesus: podem matar o corpo, mas a alma não morrerá. Vejamos mais uma vez: “E não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei antes aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo” (Mt 10.28-Trinitariana). “Não temais os que matam o corpo e, depois, não têm mais que fazer. Mas eu vos mostrarei a quem deveis temer; temei aquele que, depois de matar, tem poder para lançar no inferno; sim, vos digo, a esse temei”. (Lc 12.4-5-Trinitariana,NVI,Bíblia de Jerusalém,BLH (“jogar”). O texto acima contradiz duas teses dos aniquilistas: (a) A da morre da alma com o corpo; (b) A do extermínio dos ímpios. Alegam que “matar o corpo e não podem matar a alma” significa não poder matar o transcendente, a mente ou ego. Alegam também que se Jesus declara que Deus pode fazer perecer no inferno alma e corpo, é porque a alma é mortal. Contestação – Os contradizentes afirmam que quando o homem morre, tudo se acaba. Somente na ressurreição é que ressurgem corpo, consciência e todo o complexo ser humano. O texto, por sua clareza, dispensaria comentários. “Matar o corpo, mas não podem matar a alma”, dar autenticidade a Lucas 16.22 (Lázaro levado pelos anjos), Atos 7.59 (Estevão entregando seu espírito), Filipenses 1.23 (Paulo desejando morrer para estar com Cristo), Lucas 23.43 (o malfeitor arrependido sendo levado para o céu), Lucas 23.46 (o próprio Jesus entregando o seu espírito), Eclesiastes 12.7 (a alma se desliga e volta a Deus), Apocalipse 6.9 (almas dos mortos), Tiago 2.6 (corpo sem o espírito), Mateus 17.3 (Moisés na transfiguração), 2 Coríntios 5.8 (deixar o corpo e habitar com o Senhor), Mateus 22.32 (Deus não é Deus dos mortos, mas de vivos). A MORTE DA ALMAExaminemos algumas das provas apresentadas pelos mortalistas.“Certamente morrerás”, castigo prometido ao homem, em caso de desobediência (Gn 2.17), versículo muito usado na defesa do dogma da pena de morte para a alma. Alegam que como o homem foi feito “alma vivente” (Gn 2.7), ao morrer, morre a alma vivente e tudo se extingue. Alguns alegam que o homem, por não haver comido da árvore da vida (Gn 4.22-24), não se tornou imortal. Contestação – Os contradizentes se apegam ao termo “alma vivente” na tentativa de demonstrar que o homem sendo uma alma que vive, morrendo o homem, morre a alma. Ocorre que o hebraico nephes, mencionado mais de 780 vezes no AT, é traduzido por alma, ego, vida, pessoa, coração. A mesma palavra nephes é usada para descrever animais da terra, em distinção aos pássaros e peixes. Nesta concepção, são seres ou criaturas viventes (Gn 1.24,28,30). Quanto ao homem, a palavra passa a significar pessoa que vive. Uma importante diferença existe na criação de homens e animais. O homem foi criado de um modo todo especial. Além de haver sido feito à imagem e semelhança do Criador, Deus soprou em suas narinas. Não houve sopro nas narinas dos animais. Temos, portanto, em nosso ser uma substância divina que veio diretamente do Ser Divino. A isso chamamos alma, que, segundo as palavras do próprio Criador, Jesus, é imortal e transcendente (Mt 10.28). É possível que a árvore da vida seja símbolo das bênçãos espirituais a serem desfrutadas pelos que são lavados e remidos no sangue do Cordeiro. Após a queda, Adão foi lançado “fora do jardim do Éden” para que não tome da árvore da vida, e “viva eternamente” (Gn 3.22-23). O ressurgimento simbólico da árvore no tempo futuro (Ap 2.7;22.2,14), para desfrute dos santos imortais, desencoraja a tese de que ela seja símbolo de imortalidade. O Novo Comentário da Bíblia, assim interpreta: “Qualquer que seja a verdadeira explicação sobre a árvore, não há dúvida sobre a significação da ação de Deus ao remover o homem do jardim. O homem estava agora cortado de Deus e, portanto, no sentido mais real estava cortado da “vida”: isso foi simbolizado mediante a separação entre ele e a árvore da vida”. Somente quando a redenção aparece consumada é que a árvore da vida reaparece dentro do alcance do homem. Note-se que a `árvore da vida´ era símbolo do estado abençoado do homem; enquanto que a árvore da ciência do bem e do mal simbolizada o teste a que foi sujeitado o homem”. Gênesis 2.17 não fala em mortalidade da alma. Somente a partir de Eclesiastes 12.7 o assunto começa a ser revelado, até chegar na palavra de Jesus, conforme Mateus 10.28, onde diz que a alma não pode morrer. Adão passou por duas qualidades de morte, após sua queda: em primeiro lugar e imediatamente, adveio a morte espiritual, ou seja, a eterna separação de Deus (Gn 3.6-12). Em segundo lugar, a morte física, isto é, Adão ficou sujeito a morrer fisicamente. Daí a sentença em Gênesis 3.19: “Pois és pó, e ao pó tornarás”. Por isso, “certamente morrerás” (Gn 2.17) contempla a morte física e a morte espiritual. Esses dois tipos de morte passaram a todos os homens (Rm 5.12, cf. Mt 13.49; 25.41). A alma imortal de Adão não ficou sujeita à morte. Os mortalistas dizem que na morte o fôlego se evapora, perde-se no ar. Eclesiastes 12.7 chama “espírito” a parte invisível que sai do corpo sem vida, e que volta para Deus. Salomão não se estendeu muito no assunto, mas nota-se que ele estava falando dos justos, cujas almas vão diretamente para Deus. Portanto, não vale dizer que Salomão ensinou a salvação universal, salvação para todos. Para colocar as coisas nos devidos lugares, Jesus explica que os justos são levados para o céu, e os desobedientes para um lugar de tormentos (Lc 16.19-31). Continuemos na análise de alguns versículos apresentados pelos mortalistas em defesa do dogma da mortalidade da alma. “A alma que pecar, essa morrerá” (Ez 18.4,20).Contestação - A Bíblia está falando de pessoas, de filhos com relação aos pais. Na Bíblia Linguagem de Hoje registra “a pessoa que pecar é que morrerá”. Citar esse versículo como prova da mortalidade da alma é um lamentável equívoco. “Morte” nesse caso tem o mesmo significado que teve com relação a Adão, o de morte espiritual, compreendendo a separação de Deus. Os que estão mortos em seus pecados, afastados de Deus, porém vivos, têm ainda oportunidade de se arrependerem e aceitarem os termos da Nova Aliança em Cristo Jesus (Ez 18.21). Se, porém, não se arrependerem experimentarão a morte eterna, ou seja, a eterna separação de Deus. Estes sofrerão o eterno castigo (Ap 20.10; 14,15; 21.8). “O salário do pecado é a morte” (Rm 6.23).Contestação - Cabe a mesma refutação do tópico anterior. Vejamos o que diz o conceituado Dicionário VINE, sobre thanatos-morte: “É usado nas Escrituras para descrever: (a) a separação da alma (a parte espiritual do homem) do corpo (a parte material), o último cessar de funções e a volta para o pó (Jo 11.13; Hb 2.15; 5.7; 7.23). (b) separação do homem de Deus; Adão morreu no dia em que desobedeceu a Deus (Gn 2.17), e, por conseguinte, todo o gênero humano nasce na mesma condição espiritual (Rm 5.12.14,17,21) da qual, porém, aqueles que crêem em Cristo são livres (Jo 5.24; 1 Jo 3.14). A morte é o oposto da vida; nunca denota não-existência. Assim como a vida espiritual é “a existência consciente em comunhão com Deus”, assim, a morte espiritual é “a existência consciente na separação de Deus”. A IMORTALIDADE DE DEUS“O único que possui a imortalidade que habita em luz inacessível...” (1 Tm 6.16). Este versículo é muito usado na defesa da mortalidade da alma. Dizem que o homem somente adquire imortalidade na ressurreição para a vida eterna com Cristo. Argumentam que na ressurreição o que é mortal se reveste de imortalidade (1 Co 15.54). Os outros, os que morreram sem salvação não terão tal privilégio. Contestação – Na ressurreição dar-se-á uma recomposição do homem; o corpo volta à vida, reunindo-se à alma, e o homem retorna à condição original de ser vivente. Os crentes terão um corpo semelhante ao de Cristo (Rm 6.5; Fp 3.21). É preciso lembrar que os ímpios também ressuscitarão, e se tornarão imortais, porém terão vida de má qualidade. “O termo athanasia expressa mais que imortalidade, sugere a qualidade da vida desfrutada, como está claro em 2 Co 5.4: ...não queremos ser despidos, mas vestidos de novo, para que o mortal seja recolhido pela vida. O estado do crente de ser despido não se refere ao corpo no sepulcro, mas ao espírito que aguarda o “corpo da glória” na ressurreição” (Dicionário VINE, pg 703). O apóstolo Paulo faz talvez a mais importante revelação sobre a imortalidade da alma e futura união desta com o corpo. Ele fala da sua esperança não apenas de “partir e estar com Cristo” (Fp 1.23), mas de poder ser “vestido de novo”, quando será consumada a redenção completa, “a redenção do nosso corpo” (Rm 8.23). A imortalidade de que trata 1 Timóteo 6.16, refere-se a um atributo intrínseco da Divindade; uma imortalidade que pode ser traduzida por eternidade, isto é, Deus não teve começo nem terá fim. Por outro lado, Paulo assevera que os cristãos ressuscitarão em corpos físicos “imortais” (1 Co 15.53). Logo, o homem possui em potencial essa imortalidade não inerente ao seu ser, mas derivada, adquirida, doada. A imortalidade humana difere da de Deus porque não é eterna: a nossa não terá fim, mas teve um princípio. Mortalistas há que usam o argumento do silêncio, afirmando que em lugar nenhum da Bíblia diz que as almas que estão no céu ou no inferno sairão de seus lugares para um encontro com seus corpos. Como vimos em 2 Coríntios 5.1,8, e em outras passagens, esse silêncio não é total. Se a alma não morre com o corpo (Ec 12.7; Mt 10.28; Lc 23.43,46; At 7.59; Fp 1.23), sem dúvida ela se unirá ao corpo e formará na ressurreição um corpo espiritual e imortal. ACERCA DOS QUE DORMEMNão sejais ignorantes acerca dos que já dormem... (1 Ts 4.13,14; cf. Dn 12.2; Mt 27.52; Mc 5.39; Lc 8.52; 1 Co 11.30; 15.6,18). A expressão “os que dormem”, referindo-se aos mortos em Cristo, tem sido usada para justificar a inconsciência após a morte e a inexistência de uma alma sobrevivente e imortal. Dizem que a situação dos mortos até a ressurreição é de completa inexistência. Citam como prova irrecusável a resposta de Jesus aos discípulos: “Nosso amigo Lázaro dorme, mas vou despertá-lo” (Jo 11.11). Alegam também que Jesus nada disse sobre a situação do espírito do falecido. Para Marta e Maria seria um consolo saber que seu irmão morreu e foi para o céu. Contestação – Primeiro, é impróprio o argumento com base no silêncio de Jesus. Não se pode firmar doutrina sobre o que não foi dito. A Bíblia aponta na direção de que somente os salvos tiveram o privilégio de voltar a viver. Estamos falando em ressuscitar, ter uma vida normal, porém mortal. São exemplos: “os santos que dormiam” (Mt 27.52-53); o filho da viúva de Serepta, (1 Rs 17.19-22); o filho da sunamita, (2 Rs 4.32-35); o defunto na cova de Eliseu (2 Rs 13.21); a filha de Jairo (Mc 5.21-23, 35-41); o filho da viúva de Naim (Lc 7.11-17); a discípula chamada Tabita, ressuscitada por Pedro (At 9.36-43); a ressurreição do jovem Êutico (At 20.9). Temos aí cinco ressuscitações provavelmente de crianças (“delas pertence o reino de Deus” – Lc 18.16). Lázaro não estava num lugar de tormentos, condenado (Lc 16.22.23). Não podemos imaginar um ímpio, condenado, vivendo já em tormentos, retornar à vida por um milagre de Deus. Entendemos que Lázaro, ao morrer, fora levado pelos anjos para o céu, tal como aconteceu com o outro Lázaro, o mendigo (Lc 16.22). Segundo, sempre que a Bíblia fala em dormir está se referindo, metaforicamente, ao corpo, porquanto a parte imaterial do homem não morre, nem dorme. O corpo do malfeitor arrependido ficou “dormindo”, mas seu espírito foi para o céu (Lc 23.43). O conceituado Dicionário VINE nos oferece uma clara definição do termo grego koimaomai-dormir: “É usado acerca do “sono” natural (Mt 28.13); da morte do corpo, mas só daqueles que são de Cristo...; dos santos que partiram antes da vinda de Cristo (Mt 27.52; At 13.36); de Lázaro, enquanto Jesus ainda estava na terra (Jo 11.11). Este uso metafórico da palavra sono é apropriado por causa da semelhança na aparência entre um corpo dormente e um corpo morto; tranqüilidade e paz normalmente caracterizam ambos. O objetivo da metáfora é sugerir que assim como aquele que dorme não deixa de existir enquanto o corpo dorme, assim a pessoa morta continua a existir, apesar de sua ausência da região na qual aqueles que ficaram podem ter acesso ao corpo morto, e que, assim como sabemos que o sono é temporário, assim será a morte do corpo. É evidente que só o corpo está sob consideração nesta metáfora: (a) por causa da derivação da palavra koimaomai, de keimai, `deitar-se´; (b) pelo fato de que no Novo Testamento a palavra ressurreição é usada somente em alusão ao corpo; (c) porque em Dn 12.2, onde os fisicamente mortos são descritos como `os que dormem no pó da terra´, a linguagem é inaplicável à parte espiritual do homem; além disso, quando o corpo volta de onde veio (Gn 3.19), o espírito retorna a Deus que o deu (Ec 12.7). É evidente que a palavra `dormir´, onde é aplicada aos cristãos que partiram, não tem a intenção de transmitir a idéia de que o espírito está inconsciente”. Portanto, o argumento do “sono da alma”, como é conhecido, para justificar a visão holística do adventismo, é um dos mais insustentáveis. Somente o corpo fica inconsciente. O ESTADO DOS MORTOSPara atestar que os mortos estão inconscientes, os defensores da alma mortal apresentam os seguintes razões: Salmos 94.17, 115.17 e Isaías 38.18, que falam em “silêncio”; Salmos 6.5, fala em “esquecimento”; Eclesiastes 9.5, 6 e 10, de “inconsciência”; Daniel 12.2; Jó 14.12; Salmos 13.3, João 11.11 a 14; 1 Ts 4.13-15, falam de “sono”; Dn 12.13; Ap 6.11; 14.13, falam de “repouso”. Contestação – A Bíblia ensina que ao separar-se do corpo a alma sobrevive e permanece num estado consciente de conhecimento. Portanto, quando a Bíblia fala em silêncio, esquecimento, descanso está se referindo à situação do corpo na sepultura, uma vez que a Palavra não pode contradizer-se. Já examinamos a questão do “sono da alma”, em tópico anterior. Os textos citados podem ser esclarecidos unicamente através do exame de Eclesiastes 9.5: “Porque os vivos sabem que hão de morrer, mas os mortos não sabem coisa nenhuma...a sua memória ficou entregue ao esquecimento”. O próprio Salomão explica onde se dá essa falta de memória dos mortos. Vejam: “Tudo o que te vier à mão fazer, faze-o conforme as tuas forças, pois na sepultura, para onde vás, não há obra, nem projetos, nem conhecimento, nem sabedoria alguma” (v.10). Então, a palavra se refere ao corpo morto, inconsciente, que não mais terá qualquer atividade “debaixo do sol” (Ec 9.6), na terra, mas com certeza saberá o que estiver ocorrendo no céu (cf Lc 16.19-31; 2 Co 5.8; Ap 6.9). Por outro lado, de nada adiantaria subir para Deus uma alma inconsciente, morta, sem memória. Mas vejam que Jesus e Estevão entregaram o seu espírito. Não entregaram a sua respiração, o sopro de seus pulmões. Também de nada adiantaria ao ladrão subir para o céu, e lá não gozar conscientemente das bem-aventuranças. Os argumentos da extinção total do ser humano na hora da morte não devem prosperar por falta de embasamento bíblico. Dito isto, analisemos algumas questões levantadas pelo adventista Dr. Samuele Bacchiocchi, um dos expoentes da Igreja Adventista do Sétimo Dia (IASD), no artigo intitulado “Dualismo e Holismo no Exame da Consciência após a Morte”. Suas considerações são um retrato ampliado do pensamento da senhora Ellen Gould White (1827-1915), co-fundadora e profetiza da IASD. Os argumentos e textos bíblicos do Dr. Bacchiochi são, regra geral, os mesmos da referida profetiza, que assegurou o seguinte: “Depois da queda, Satanás ordenou a seus anjos que inculcassem a crença da imortalidade natural do homem” (Ellen, “O Grande Conflito”, Edição Condensada, Casa Publicadora Brasileira, S. Paulo, p. 317). Não se sabe como a profetiza soube o que se passava no reino das trevas. Ora, todos sabemos que os homens morrem, mas sabemos também que todos ressuscitarão, uns para a ressurreição da vida, outros para a ressurreição da condenação” (Jo 5.29). O problema reside em refletirmos a respeito dessa condenação. Os ímpios ressuscitarão para a ressurreição da morte? Ou para receberem a devida punição, “e de dia e de noite serão atormentados para todo o sempre” (Ap 20.10)? A imortalidade que defendemos não é a do homem, mas a da alma do homem. Jesus soube muito bem definir o que significa corpo mortal e alma imortal (Mt 10.28). Mas adiante, Ellen White declara: “Se fosse verdade que a alma passa diretamente para o Céu na hora do falecimento, bem poderíamos anelar mais a morte que a vida” (p. 319). Argumento exatamente igual vem sendo usado pelos admiradores da profetiza. O apóstolo Paulo sabia que não existe, para os salvos, nenhum espaço de tempo indefinido entre a morte e a vida futura. Vejam: ...”enquanto estamos no corpo, vivemos ausentes do Senhor; mas temos confiança e desejamos, antes, deixar este corpo, para habitar com o Senhor” (2 Co 5.6,8); “Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho; mas de ambos os lados estou em aperto, tendo desejo de partir e estar com Cristo, porque isto é ainda muito melhor” (Fp 1.21,23). Vejamos os argumentos do Dr. Bacchiocchi:“Não existe na Bíblia qualquer dicotomia entre um corpo mortal e uma alma imortal que “se separa” quando da morte. Tanto o corpo quanto a alma são unidades indivisíveis que deixam de existir ao tempo da morte, até a ressurreição”. Não procede tal tese. Ocorre exatamente o contrário. Na morte, há uma separação. Corpo e alma são unidades divisíveis. Conquanto o corpo se corrompa no pó, a alma, dada por Deus, sobrevive. A questão é que na visão holística o que se separa do corpo é o sopro; na visão dualista, o que se separa é a parte imaterial do homem. “Abandonar o dualismo também provoca o abandono de todo um conjunto de doutrinas que resultam disso, especialmente a acariciada crença na consciência da vida após a morte. Isso pode se chamar “efeito dominó”. Se uma doutrina cai, várias cairão junto”. Não há como os aniquilistas abandonarem a crença da pena de morte para a alma sem que sofram o “efeito dominó”. Abandonariam também a crença da inconsciência da alma, do extermínio dos ímpios, do sono da alma. Todavia, considero ser possível – em prol da liberdade de pensamento -, que um adventista se convença do ensino bíblico da imortalidade da alma, e continue adventista. “O evangelho não nos dá base para uma doutrina de redenção que salva a alma à parte do corpo ao qual pertence. A comissão evangélica não é salvar almas, mas pessoas inteiras”. Os evangélicos não ensinam o contrário. A redenção contempla o homem, corpo e alma. Para isso ocorre a ressurreição do corpo. É o corpo físico que ressurge. O mortal se revestirá de imortalidade (1 Co15. 53-54). “... gememos, aguardando a redenção do nosso corpo” (Rm 8.23). As almas imortais não precisam ser revestidas de imortalidade. Elas estão num lugar de descanso, ou num lugar de tormento (Lc 16.19-31). Na ressurreição a alma volta a unir-se ao corpo e o homem retorna à situação original de ser vivente (cf Rm 8.11). “Essas crenças têm enfraquecido e obscurecido a expectativa da segunda vinda de Cristo”. Não procede o argumento de que a “crença popular” dualista não valoriza a vinda de Cristo, uma vez que as almas dos crentes já estão no céu. A redenção só se completa com a ressurreição do corpo, que está garantida pela ressurreição de Cristo (Mt 28.6; At 17.31; 1 Co 15.12,20-23). A ressurreição do corpo é necessária: (a) porque o corpo é parte essencial e total da personalidade do homem (Rm 8.18-25); (b) na ressurreição o corpo voltará a ser templo do Espírito (1 Co 6.19); (c) para vencer a morte, o último inimigo do homem (1 Co 15.26). “O homem não recebeu uma alma de Deus; ele foi feito uma alma vivente. Os animais também foram feitos “almas viventes” (Gn 1:20, 21, 24, 30; 2:19), contudo, não foram criados à imagem de Deus”. Entenda-se “almas viventes” como criaturas viventes ou seres viventes que têm vida, que respiram vivem e se movem. Há, sim, uma grande diferença na forma como Deus criou homens e animais. Somente o homem recebeu o sopro de Deus em suas narinas (Gn 2.7). Isto é muito significativo. Para que os animais respirassem e vivessem não foi necessário o sopro de Deus. O respirar faz parte da mecânica do ser vivente. Os homens possuem algo provindo do seu eterno e imortal Criador. Esse algo se chama alma. Homens e animais se assemelham na morte porque os corpos de um e de outro descem ao pó e são consumidos. Mas com relação aos animais não se diz que o “espírito volta a Deus, que o deu” (Ec 12.7). “O que retorna para Deus não é a alma imortal humana, mas o Espírito divino que transmite vida e que nas Escrituras são igualadas ao fôlego de Deus: “Se Deus. . . recolhesse o seu espírito [ruach] e o seu sopro [neshamah], toda carne pereceria juntamente, e o homem retornaria ao pó” (Jó 34:14-15). O paralelismo indica que o fôlego de Deus é o Seu Espírito transmissor de vida”. Vejamos a versão Trinitariana: “Se ele pusesse o seu coração contra o homem, e recolhesse para si o seu espírito e o seu fôlego, toda a carne juntamente expiraria, e o homem voltaria para o pó” (Jó 34.14-15). A Bíblia Linguagem de Hoje registra: “Se Deus quisesse, poderia fazer voltar para si o fôlego, a respiração da gente; então todas as pessoas morreriam juntas, no mesmo instante, e voltariam de novo para o pó”. O Espírito de Deus é Deus. O Espírito Santo é Deus. Não faz sentido dizer que o Espírito divino retorna para Deus. Na verdade, o texto nos diz que se Deus não amasse a humanidade [“pusesse seu coração contra o homem”], e tirasse o fôlego de todos e o espírito que nos foi doado, todos pereceriam. A passagem não serve como argumento para defender a mortalidade da alma. A afirmação de que quem “retorna para Deus não é a alma imortal humana, mas o Espírito divino que transmite vida e que nas Escrituras são igualadas ao fôlego de Deus”, é uma velada negação do Espírito Santo como terceira pessoa da Trindade. As testemunhas de Jeová dizem que o Espírito é uma força, uma energia. ”Quando, porém, o sopro se vai, tornam-se almas mortas. Isso explica porque a Bíblia freqüentemente se refere à morte humana como a morte da alma (Lv. 19:28; 21:1, 11; 22:4; Nm. 5:2; 6:6,11; 9:6, 7, 10; 19:11, 13; Ag 2:13)”. A exemplo de Lv 19.28: “Pelos mortos não dareis golpes na vossa carne; nem fareis marca alguma sobre vós”, e Ageu 2.13: “Se alguém vier a tornar-se impuro, por haver tocado um corpo morto...”, nenhum dos textos citados diz que a alma morre junto com o corpo. Nada que possa robustecer a tese mortalista está nesses versículos, que apontam para o “corpo” sem vida, morto. No voto de nazireu havia a restrição de não tocar num corpo morto, que transmitia impureza (Nm 6.6). A mesma restrição é admitida pelo profeta Ageu, ao falar aos sacerdotes, porque fazia parte da lei (cf Nm 19.11-14). “O que distingue os seres humanos dos animais não é a alma, mas o fato de que os seres humanos foram criados à imagem de Deus, isto é, com possibilidades semelhantes às de Deus, não disponíveis aos animais”. Uma característica importante, a mais importante, distingue os homens dos animais: somente a respeito dos homens Eclesiastes diz que quando o corpo desce ao pó, o espírito volta a Deus (Ec 12.7). Somente com relação ao homem, Jesus revelou que a sua alma é imortal: “Não tenham medo daqueles que podem matar o corpo e não podem matar a alma” (Mt 10.28a). Portanto, não somos semelhantes aos animais nem na criação, nem na vida, nem na morte. “Para impedir à humanidade pecadora a possibilidade de “viver para sempre” (Gn 3:22), após a Queda Deus barrou o acesso à árvore da vida (Gn 3:22, 23)”. “Após a Queda, Adão e Eva não mais tiveram acesso à árvore da vida (Gn. 3:22-23) e, conseqüentemente, começaram a experimentar a realidade do processo da morte”. A alta simbologia da “árvore da vida” não ficará restrita ao conceito da imortalidade. O assunto foi desenvolvido em tópico anterior, onde lembrei que a mesma árvore surge na nova morada dos justos: “Ao que vencer, dar-lhe-ei a comer da árvore da vida, que está no paraíso de Deus (Ap 2.7). A árvore da vida representa a plenitude da vida eterna. A desobediência do homem resultou não na perda da imortalidade de seu espírito, mas em sua morte física e espiritual, como já explicado. A árvore da vida manifesta-se nos dias de hoje para o homem redimido, e estará na Jerusalém celestial, indicando o pleno retorno às condições no Éden. “A advertência divina (G. 2:17) estabelece uma clara ligação ética entre a vida e a obediência versus morte e desobediência. A natureza humana não foi criada com uma alma imortal, mas com a possibilidade de tornar-se imortal. A desobediência resultou em morte, não apenas para o corpo, mas para a pessoa inteira. Deus não disse: “no dia em que comerdes dela, vossos corpos morrerão enquanto vossa alma sobreviverá num estado desincorporado”. Antes, declarou: “Vós”, ou seja, a pessoa inteira, “morrereis”. A declaração “certamente morrereis” não revela tudo a respeito do complexo ser humano. Aprendemos que na Bíblia, a exemplo do Messias que começou a ser revelado em Gênesis 3.15, as revelações são progressivas, como foi progressiva a revelação a respeito da imortalidade e sobrevivência da alma. Após a queda, Adão experimentou a morte espiritual ao ver-se afastado de Deus, e ficou potencialmente sujeito à morte física. “Sumariando, a expressão “o homem se tornou uma alma vivente-nephesh hayyah” apenas significa que em resultado do sopro divino, o corpo inanimado fez-se um ser vivente, que respirava--nada menos do que isso. O coração começou a bater, o sangue a circular, o cérebro a pensar, sendo todos os sinais vitais ativados. Declarado em termos simples, “uma alma vivente” significa “um ser vivo”, e não “uma alma imortal”. O que distingue os seres humanos dos animais não é a alma, mas o fato de que os seres humanos foram criados à imagem de Deus, isto é, com possibilidades semelhantes às de Deus, não disponíveis aos animais. “Possibilidades semelhantes às de Deus” é uma afirmação dúbia. Quais possibilidades? Poderíamos dizer que uma dessas possibilidades seria a imortalidade. O próprio Deus destacou a alma como o elemento que distingue os homens dos animais. O animal morre, e nada sobrevive; morre o homem, o espírito imortal sobrevive (Ec 12.7; Mt 10.28). Portanto, é exatamente o contrário do que foi dito. “A Bíblia traz um relatório de sete pessoas que foram levantadas dentre os mortos (1 Reis 17:17-24; 2 Reis 4:25-37; Lucas 7:11-15; 8:41-56; Atos 9:36-41; 20:9-11), mas nenhuma delas teve uma experiência de pós-morte para compartilhar. “Não existe forma de vida consciente entre a morte e a ressurreição. Os mortos repousam inconscientemente em suas sepulturas até que Cristo os chame no glorioso dia de Sua vinda”. Mais uma vez tenta-se firmar tese com base no silêncio das Escrituras. Não é boa essa hermenêutica. As doutrinas devem ser apresentadas com base no que a Bíblia diz, e não no que ela não diz. Porque a Bíblia não relata experiências pós-morte, então não existe vida espiritual logo após a morte? Poderíamos dizer que os animais também ressuscitam, pois a Bíblia nada diz a respeito. O argumento acima desconsidera o fato de que Moisés, apesar de haver morrido há mais de mil anos, apareceu em sã consciência e conversou com Jesus na transfiguração, estando presentes Pedro, Tiago e João (Mt 17.1-9). O profeta Elias, que subiu ao céu num redemoinho, também ali estava. O registro da presença de Moisés no monte da transfiguração é bastante para demolir o dogma da inconsciência dos mortos. Na tentativa de contornar mais esse obstáculo, alegam que é possível que Moisés haja ressuscitado, considerando-se que “o arcanjo Miguel, quando contendia com o diabo, e disputava a respeito do corpo de Moisés, não ousou pronunciar juízo de maldição contra ele...” (Jd 9). Mas onde está escrito que Moisés ressuscitou? O que está escrito na Bíblia é que ele morreu e foi sepultado. Todos os justos que já morreram estão na presença do Senhor, porque “Deus não é Deus de mortos, mas de vivos” (Mt 22.32). Esta é uma declaração da sobrevivência da personalidade após a morte. Entre a morte e a ressurreição os justos continuam como que vivos para Deus, e aguardam o momento glorioso da redenção do corpo, quando enfim a morte será vencida. Leiam: “Ora, Deus não é Deus de mortos, mas de vivos, porque para ele vivem todos” (Lc 20.38). A passagem explica que depois que os patriarcas morreram em seu estado corpóreo continuaram vivendo em outro estado. “Nenhum texto bíblico autoriza a declaração de que a ‘alma’ é separada do corpo no momento da morte. O ruach, ‘espírito’, que faz do homem um ser vivente (cf. Gn 2:7), e que ele perde por ocasião da morte, não é, falando-se apropriadamente, uma realidade antropológica, mas um dom de Deus que retorna a Ele ao tempo da morte. (Ec 12:7)”. Nesse caso o argumento do silêncio das Escrituras erra o alvo. A visão adventista da inconsciência após a morte assenta-se sobre dois pilares: Gênesis 2.7, “o homem se tornou alma vivente”, e Gênesis 2.17, “certamente morrerás”. Os dois textos são citados à saciedade no decorrer do artigo sob análise. Em tópico anterior dissertamos sobre essa questão. A expressão “alma vivente” significa um ser que vive, que se move, que respira. O homem é uma alma no sentido em que ele é um ser vivente, uma pessoa, uma personalidade. O próprio Deus, na Pessoa do Filho, que criou o homem e disse “certamente morrerás”, e que veio trazer Boas Novas, nos ensinou que o homem possui uma parte imaterial, o espírito, que se separa do corpo na hora da morte (Mt 10.28). Com isso, Jesus deu mais luz ao contido em Eclesiastes 12.7. Ao dizer ao ladrão arrependido: Hoje estarás comigo no paraíso”, Jesus não se referia ao “dom de Deus”, à vida do malfeitor. Referia-se à sua personalidade, ao seu espírito, parte invisível e imaterial do seu ser. Ele foi recebido no céu pelo Deus dos vivos, e não dos mortos. “Primeiramente, não há lembrança do Senhor na morte: “Pois na morte [maveth] não há recordação de Ti; no sepulcro quem te dará louvor?” (Sal. 6:5)”. Já comentamos e refutamos diversos textos apresentados como prova de que não há memória na morte. A contestação e explicação está no próprio versículo. É “no sepulcro”, onde jaz o corpo, que ocorre a falta de memória. “Alguns argumentam que a intenção das passagens que acabamos de citar e que descrevem a morte como um estado de inconsciência “não é ensinar que a alma do homem é inconsciente quando ele morre”, e sim de que “no estado de morte o homem não mais pode participar nas atividades do mundo presente”. Em outras palavras, uma pessoa morta é inconsciente no que concerne a este mundo, mas sua alma é consciente no que concerne ao mundo dos espíritos. O problema com essa interpretação é que tem por base o pressuposto gratuito de que a alma sobrevive à morte do corpo, um pressuposto que é claramente negado no Velho Testamento. Descobrimos que no Velho Testamento a morte do corpo é a morte da alma porque o corpo é a forma exterior da alma”. Em vários lugares, maveth [morte] é usada em referência à segunda morte. “Dize-lhes: Tão certo como eu vivo, diz o Senhor Deus, não tenho prazer na morte do perverso, mas em que o perverso se converta do seu caminho, e viva. Convertei-vos, convertei-vos dos vossos maus caminhos; pois, por que haveis de morrer, ó casa de Israel” (Ez 33:11; cf. 18:23, 32). Aqui a “morte do ímpio” obviamente não se refere à morte natural que toda pessoa experimenta, mas aquela infligida por Deus no Fim aos pecadores impenitentes. Nenhuma das descrições literais ou referências figuradas da morte no Velho Testamento sugere a sobrevivência consciente da alma ou espírito à parte do corpo. A morte é a cessação da vida para a pessoa integral. Houve um lamentável equívoco na exposição da idéia. Em primeiro lugar, por que buscar apoio somente no Velho Testamento? A Palavra de Deus não se estende ao Novo Testamento? Segundo, o texto citado como exemplo não dá suporte à eliminação do corpo e alma juntos. As lentes dos aniquilacionistas enxergam extermínio em qualquer tipo de morte. Mas não é bem assim. Adão morreu, mas não foi exterminado. Nós morremos em Adão, por causa de sua desobediência (1 Co 15.22); os crentes morrem para o pecado, isto é, afasta-se de toda associação espiritual com o sistema pecaminoso do mundo (Rm 6.2; 1 Pe 2;24); morremos de morte natural (Mt 9.24); os ímpios morrem em seus pecados (Jo 8.24). Vejamos o que diz o verso apresentado como prova: “Dize-lhes: Vivo eu, diz o Senhor Jeová, que não tenho prazer na morte do ímpio, mas em que o ímpio se converta do seu caminho e viva; convertei-vos, convertei-vos dos maus caminhos; pois por que razão morrereis, ó casa de Israel” (Ez 33.11). Em outras palavras, o texto repete Ez 18.20: “A alma que pecar, essa morrerá”. Agora, vejamos o que o articulista disse acima: “Descobrimos que no Velho Testamento a morte do corpo é a morte da alma porque o corpo é a forma exterior da alma”. Se a descoberta foi em decorrência dos versículos acima, vê-se claramente que nada foi descoberto. Ezequiel 18.20 e 33.11 falam em morte dos ímpios, isto é, morrem em suas iniqüidades (vv.10,13,18). Não diz que a morte do corpo é a morte da alma, nem diz que se trata de um extermínio nos tempos do fim. A “morte do ímpio” se caracteriza em dois planos: (a) aqui na terra, pela quebra da comunhão com Deus (Tg 1.15), significando morte espiritual, tal como aconteceu com Adão logo após desobedecer (Gn 3.7-10); (b) a morte eterna, caracterizada pela separação definitiva e irremediável entre o pecador e Deus, após a ressurreição de que trata Jo 5.29 e Apocalipse 20.5. A morte eterna é entendida como a segunda morte, o lago de fogo – mais adiante explicado -, onde serão atormentados para todo o sempre (Ap 20.10). continua... Autor: Pr. Airton Evangelista da Costa
1 - apollumi, “destruir”, significa, na voz média, “perecer”, e é usado acerca de:
(a) coisas (por exemplo, Mt 5.29.30; Lc 5.37; At 27.34 [em alguns textos piptõ, “cair”]; Hb 1.11; 2 Pe 3.6; Ap 18.14-segunda parte...
(b) pessoas (por exemplo, Mt 8.25; Jo 3.15, 16; 10.28; 17.12, “se perdeu”; Rm 2.12; 1 Co 8.11; 15.18; 2 Pe 3.9; Jd 11). Em 1 Co 1.18 [“Porque a mensagem da cruz é loucura para os que estão perecendo...”], literalmente, “perecendo”, onde a força perfectiva do verbo implica a conclusão do processo. Quanto ao significado da palavra, veja DESTRUIR”.
“Destruir”
1 - apollumi, forma fortalecida de ollumi, significa “destruir totalmente”; na voz média, “perecer”. A idéia não é de extinção, mas de ruína, perda, não de ser, mas de bem-estar. Isto é claro pelo uso do verbo, como, por exemplo, o estrago dos odres de vinho (Lc 5.37); a ovelha perdida, ou seja, perdida do pastor, estado metafórico de destituição espiritual (Lc 15.4,6, etc.); o filho perdido (Lc 15.24); o perecimento da comida (Jo 6.27), do ouro (1 Pe 1.7). O mesmo com relação às pessoas (Mt 2.13; 8.25; 22.7; 27.20); à perda da felicidade no caso dos não-salvos (Mt 10.28; Lc 13.3,5; Jo 3.15, em alguns manuscritos; Jo 3.16; 10.28; 17.12; Rm 2.12; 1 Co 15.18; 2 Co 2.15; 4.3; 2 Ts 2.10; Tg 4.12; 2 Pe 3.9).
2 - kataluõ, formado de kata, para baixo, elemento intensivo, e o n. 4, “destruir totalmente”, “subverter completamente”, é verbo que ocorre em Mt 5,17 duas vezes acerca da lei); Mt 24.2; 26.61; 27.40; Mc 13.2; 14.58; 15.29; Lc 21.6 (acerca do templo); em At 6.14, diz respeito a Jerusalém; em Gl 2.18, fala acerca da lei como meio de justificação; em Rm 14.20, da ruína do bem-estar espiritual de uma pessoa (em Rm 14.15, o verbo appolumi, n. 1, é usado no mesmo sentido). Em At 5.38,39, acerca do fracasso dos propósitos; em 2 Co 5.1, da morte do corpo”.
Portanto, nem sempre a expressão PERECER significa destruição, extermínio, eliminação do ser. Vejamos o que diz o evangelho sinótico de Lucas:
“Temam aquele que, depois de matar o corpo, tem poder para lançar no inferno” (Lc 12.5b-NVI-Almeida RC-Bíblia de Jerusalém-Trinitariana).
Quarto – Para contornar o problema, alegam que o ladrão não morreu naquele mesmo dia. Dizem que os crucificados passavam até sete dias sofrendo. Afirmam que “Cristo foi caso excepcional e que sabemos que não morreu dos ferimentos ou da hemorragia, mas do quebrantamento do coração. Morreu de dor moral por causa dos pecados do mundo. Mas os outros, não, e as crônicas descrevem o condenado esvaindo-se lentamente durante dias”. Alegam mais que “de acordo com o costume, quebravam as pernas dos criminosos depois de os haverem removido da cruz, deixando-os estendidos no chão, até que o sábado passasse. Depois do sábado haver passado, sem dúvida esses dois corpos foram outra vez amarrados na cruz, e lá ficaram diversos dias até morrerem..."
Contestação – Como não podem negar a morte de Jesus na sexta-feira, apelam por alongar a agonia dos malfeitores crucificados. Ao dizer que Jesus morreu de “dor moral”, negam a existência de hemorragia no Seu corpo, a asfixia, o enfraquecimento físico. Tal afirmação colide com diagnósticos de profissionais. O Dr. Barbet, médico francês, professor e cirurgião, que por treze anos viveu na companhia de cadáveres, após dissertar sobre o sofrimento de Jesus, dá o seu diagnóstico:
“Todas as suas dores, a sede, as cãibras, a asfixia, o latejar dos nervos medianos, lhe arrancaram um lamento: ”Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?". Jesus grita: “Tudo está consumado!". Em seguida num grande brado disse: "Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito". E morre”.
O Professor Pierluigi Baima Bollone diretor do Instituto de Medicina Legal da Universidade de Torino – Itália, relata em seu último livro, "Os últimos dias de Cristo". que a causa final da morte de Jesus foi “asfixia, complicada por ataque cardíaco terminal, e trombose coronária, ocorridas depois de poucas horas sobre a cruz, pois Jesus se encontrava fraco, devido as torturas recebidas. Todos estes dados são perfeitamente compatíveis com o que se lê nos evangelhos”.
Contestação – Creio que todas as afirmações de Jesus são verdadeiras. Os mortalistas se agarram na frágil argumentação segundo a qual o espírito de Jesus não subiu ao Pai porque Ele mesmo o revelou a Madalena (Jo 20.17). Somente em duas hipóteses Jesus não entregou seu espírito ao Pai. Primeira, Ele não falou isso, e os evangelhos mentem; segunda, de fato Ele entregou seu espírito, mas o Pai não o recebeu. Nenhuma dessas hipóteses é viável. “Não me detenhas, porque ainda não subi para meu Pai” diz respeito à subida de seu corpo ressurreto. Passados quarenta dias é que se deu sua ascensão corporal.
Na ótica dos mortalistas não existe separação entre corpo e espírito por ocasião do falecimento. Admitem que o retorno à vida, como no caso de Lázaro (Jo 11.43) e da ressurreição coletiva (1 Ts 4.16-17), é resultado de novo sopro de Deus.
Jesus e Estevão não entregaram um simples sopro, nem Jesus disse ao ladrão que o seu “sopro” estaria subindo para o céu juntamente com o seu próprio “sopro”. Nem sempre se pode traduzir psyche como “sopro”. Vejamos se seria possível tal construção:
“Não temais os que matam o corpo, e não podem matar o “sopro”; temei antes aquele que pode fazer perecer no inferno tanto o “sopro” como o corpo” (Mt 10.28).
Após a morte a alma continua existindo. Na sua visão apocalíptica, o apóstolo João validou essa realidade: “E, havendo aberto o quinto selo, vi debaixo do altar as almas dos que foram mortos por amor da palavra de Deus...e clamavam com grande voz...” (Ap 6.9-10). De nenhum modo se pode deduzir que os “sopros” dos mortos estavam vivos e conscientes. As “almas dos que foram mortos” estavam no céu, e oravam para que os ímpios que rejeitaram a Deus e mataram os seus seguidores recebessem a justiça divina.
Em Lucas 16.22 está escrito, conforme palavras de Jesus, que o mendigo Lázaro morreu e “foi levado pelos anjos para o seio de Abraão”. A alma do injusto rico seguiu para um lugar de tormentos. O apóstolo Paulo desejou “partir e estar com Cristo, o que é muito melhor” (Fp 1.23). Esta afirmação denota mudança imediata, sem interrupção, sem intervalo. Demonstra que Paulo sabia que a sua alma entraria imediatamente na presença de Deus.
A imortalidade da alma não é doutrina estranha às sagradas Escrituras. Creio na verdade dita por Jesus: podem matar o corpo, mas a alma não morrerá. Vejamos mais uma vez: