A Dor da Solidão


Muitos animais vivem sozinhos sem que isso signifique um problema para eles. Unem-se ao parceiro somente para o acasalamento. Os tigres, por exemplo, não vivem em grupos. São bastante independentes. O ser humano, porém, tem uma natureza gregária. O homem precisa da companhia do seu semelhante. Logo no princípio, Deus disse: Não é bom que o homem esteja só (Gn.2.18). Adão vivia no paraíso, com toda abundância e beleza. Estava cercado por um cenário maravilhoso, que incluía todo tipo de vegetação e animais. Porém, a plenitude da sua felicidade dependia ainda da presença de alguém que lhe fosse semelhante e pudesse atendê-lo em suas carências físicas e emocionais.

A natureza humana continua assim. Temos necessidade de companhia. Precisamos ajudar e ser ajudados. Precisamos dar e receber, compartilhar. A parceria e o grupo nos ajudam na conquista de objetivos que, sozinhos, não alcançaríamos. Além disso, precisamos nos sentir participantes, pertencentes, aceitos, compreendidos, importantes, enfim, amados.

Entretanto, contra esta necessidade natural operam fatores diversos. O egoísmo muitas vezes nos empurra para o isolamento. Vivemos em um sistema social e econômico onde cada pessoa é incentivada a construir seu próprio mundo, ter suas próprias coisas, fazer apenas sua própria vontade, buscar somente seu prazer pessoal, ser totalmente independente.

A competição também contribui para que cada pessoa se isole e veja os outros como adversários. As concorrências são naturais em algumas situações. Porém, não podemos perder o controle. Por exemplo, quando as disputas acontecem dentro da família, isto pode se tornar motivo de isolamento.

Em nossos dias, as separações familiares são cada vez mais comuns. Assim, o número de pessoas que vivem sozinhas é cada vez maior. Quantos estão sozinhos, apesar de viverem em grandes cidades, entre milhões de habitantes! Muitas vezes, tentam amenizar o problema assumindo muitos compromissos, muito trabalho. Às vezes, os solitários procuram festas ou grandes multidões, mas isto se torna apenas um tipo de solidão acompanhada. As aventuras sexuais e os vícios também são procurados como refúgio, mas o problema essencial continua: falta o amor e o compromisso acolhedor que ele proporciona. Em muitos casos, o solitário torna-se deprimido e pode chegar ao suicídio.

Isolar-se por alguns momentos para refletir pode ser benéfico (Lm.3.27-28), mas escolher o isolamento como modo de vida demonstra falta de sabedoria (Pv.18.1).

Quantas pessoas vivem em riqueza e conforto, mas sentem-se esmagadas pelo peso da solidão. Seu paraíso não tem graça nem valor. O pior de tudo isso é a solidão espiritual. É quando o solitário se sente distante de Deus.

A Bíblia nos mostra diversas situações de solidão (Ec.4.8-11; Lm.3.28; Os.8.9; Salmos 102.7). Algumas vezes como conseqüência do pecado, próprio ou alheio (Is.5.8; Lv.13.46; Jr.50.12; Lv.16.22). Em outros casos, como resultado do abandono, da rejeição (Is.27.10) ou da viuvez (Lm.1.1). Menciona-se também a solidão do profeta, em meio aos que rejeitam sua mensagem (I Rs.19.14; Jr.17.15; Dn.10.7-8), a solidão do poder (Êx.18.14) e a solidão do réu (II Tm.4.16). Ela ocorre pelos mais variados motivos, até mesmo alheios à nossa vontade. A doença e a velhice, algumas vezes, vêm acompanhadas pela solidão. Hospitais, asilos e presídios são seus ambientes mais comuns. O seu gosto amargo pode ser ainda pior quando se mistura à culpa, à saudade e ao ressentimento.

A maior parte das referências bíblicas a respeito da solidão encontram-se no Velho Testamento. No Novo Testamento, a pior experiência desse tipo foi vivida pelo Senhor Jesus. Ele, que sempre contava com a presença do Pai (Jo.8.29; 16.32), experimentou, na cruz, o abandono. Naquele momento de dor, o Mestre clamou: Eloí, Eloí, lama sabactani?, que significa Deus meu, Deus meu, porque me desamparaste? (Mc.15.34). Como nosso autêntico representante, ele levou sobre si, além dos nossos pecados e dores, também nossa solidão. Ele sentiu a dor do órfão, da viúva, do asilado, do condenado, do exilado, dos excluídos e esquecidos. Sentiu, acima de tudo, o peso de ser abandonado pelo próprio Deus.

Jesus viveu tudo isso para que não sejamos mais solitários. Deus enviou seu filho ao mundo para que não ficássemos sozinhos. O Verbo se fez carne e habitou entre nós (Jo.1.14). O seu nome é Emanuel, que significa Deus conosco (Mt.1.23).

Pouco antes de subir aos céus, ele afirmou: Eis que estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. (Mt.28.20). Aqueles que recebem o Senhor Jesus em seus corações sabem que ele não os abandonará jamais. Se o meu pai e minha mãe me desampararem, o Senhor me acolherá (Salmos 27.10). Não vos deixarei órfãos, voltarei para vós (Jo.14.18). Não te deixarei nem te desampararei (Js.1.5; Dt.31.6).

Quando cremos em Jesus, temos com quem contar em todos os momentos da vida. Não somos solitários, pois o Senhor está conosco. Mas ele deseja que tenhamos também outras pessoas como amigos e companheiros. Por isso, ele criou a igreja, que é a família de Deus na terra (Ef.2.19). Na igreja, o solitário encontra acolhimento (Salmos 68.6).

Deus é o auxílio dos órfãos e das viúvas (Salmos 10.14; 68.5; 113.9). O Senhor acolhe aqueles que o buscam, faz com que sua solidão termine e sua vida se transforme de modo glorioso (Ez.36.35; Dt.32.10).

Olhai para Abraão, vosso pai, e para Sara, que vos deu à luz. Sendo ele só, eu o chamei, e o abençoei e o multipliquei. O Senhor certamente consolará a Sião, e consolará a todos os seus lugares assolados; ele fará o seu deserto como o Éden, e os seus ermos como o jardim do Senhor. Gozo e alegria se acharão nela, ações de graças e som de cânticos. (Is.51.2-3).

Autor: Prof. Anísio Renato de Andrade