Estudo Bíblico A Cruz de Cristo


Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus. (1 Coríntios 1:18)

Vamos considerar nesta oportunidade um dos símbolos do cristianismo aparentemente mais contraditório ou escandaloso: a cruz de Cristo.
- Como é possível que através de um instrumento de morte possibilite-se vida abundante?
- Como é possível que através de um instrumento de condenação venha justificação?
- Como é possível que através de um instrumento de maldição manifeste glorificação?
- Como é possível que através de um instrumento de fraqueza completa manifeste o poder e triunfo completo?
- Como é possível que através de um instrumento de separação traga em si a reconciliação?

Realmente, estamos considerando o Poder de Deus - A Palavra da Cruz. A Cruz é o ponto de encontro entre o homem pecador e o Deus Salvador. O testemunho de Deus está relacionado diretamente à Cruz de Seu Amado Filho.

“E eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não fui com sublimidade de palavras ou de sabedoria. Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado.” (1 Coríntios 2:1-2)

A cruz é o caminho de salvação de Deus. O apóstolo Paulo foi despertado por Deus para reconhecer que não havia outra forma de salvação do miserável pecador senão através da cruz de Cristo. Certamente a cruz é o lugar do arruinado, do corrupto, do bandido, do canalha, do mesquinho, do perverso, do arrogante, do presunçoso, do orgulhoso, do exibido, do religioso, enfim, do pecador perdido em todas as suas nuanças.

A cruz faz parte dos desígnios de Deus para a salvação do pecador perdido, o julgamento do pecado, da morte e do diabo com seus anjos, e para a manifestação de Sua glória.

“A este que vos foi entregue pelo determinado conselho e presciência de Deus, prendestes, crucificastes e matastes pelas mãos de injustos;”
“Saiba, pois com certeza toda a casa de Israel que a esse Jesus, a quem vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo.” (Atos 2:23; Atos 2:36)

Isto nos mostra que a cruz de Cristo é atemporal, isto é, ela precede o tempo e tem valor eterno. Há muitos anos antes do advento do Messias prometido, Isaias profetizou acerca do sacrifício do Redentor: “Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados. Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo seu caminho; mas o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos.

"Ele foi oprimido e afligido, mas não abriu a sua boca; como um cordeiro foi levado ao matadouro, e como a ovelha muda perante os seus tosquiadores, assim ele não abriu a sua boca. Da opressão e do juízo foi tirado; e quem contará o tempo da sua vida? Porquanto foi cortado da terra dos viventes; pela transgressão do meu povo ele foi atingido.” (Isaías 53:5-8)

A cruz não era a derrota, como os inimigos do Senhor imaginavam, mas a chave do plano divino. A visão retrospectiva de Pedro também nos remete a essa realidade pretérita, presente e futura.
“Sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver que por tradição recebestes dos vossos pais, Mas com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado, O qual, na verdade, em outro tempo foi conhecido, ainda antes da fundação do mundo, mas manifestado nestes últimos tempos por amor de vós; E por ele credes em Deus, que o ressuscitou dentre os mortos, e lhe deu glória, para que a vossa fé e esperança estivessem em Deus;” (1 Pedro 1:18-21)

O escritor aos Hebreus enfatiza a eficácia eterna do sangue de Cristo que redimiu tanto aos santos da antiga aliança, quanto os da nova aliança. Isto implica que o sacrifício de Cristo na cruz não se repete, mas é perfeito e eficaz para sempre.

“Porque, se o sangue dos touros e bodes, e a cinza de uma novilha esparzida sobre os imundos, os santifica, quanto à purificação da carne, quanto mais o sangue de Cristo, que pelo Espírito eterno se ofereceu a si mesmo imaculado a Deus, purificará as vossas consciências das obras mortas, para servirdes ao Deus vivo? E por isso é Mediador de um novo testamento, para que, intervindo a morte para remissão das transgressões que havia debaixo do primeiro testamento, os chamados recebam a promessa da herança eterna.” (Hebreus 9:13-15)

O elemento surpreendente da cruz não é o sangue, mas o sangue de quem e com que propósito. ¹

O cristianismo bíblico afirma que Cristo possui duas naturezas, que Ele é tanto divino quanto humano (100% Deus e 100% Homem). Ele existe junto com Deus Pai na eternidade como a segunda pessoa da Trindade, mas tomou a natureza humana na encarnação. O que resulta disso não compromete nem confunde, seja a natureza divina, seja a humana, de modo que Cristo era totalmente Deus e totalmente Homem, e permanecerá nessa condição para sempre.²

Por isso somente Ele poderia interpor-se em um abismo infinito para salvar o pecador. O Justo sobre a cruz é o único ponto de contato entre o pecador e o poder salvador de Deus.³ O ato de rebelião de Adão resultou em um abismo intransponível entre a humanidade caída e um Deus três vezes Santo, porque a absoluta perfeição não pode coexistir com a imperfeição.

“Desviaram-se todos e juntamente se fizeram imundos: não há quem faça o bem, não há sequer um”. “Quem do imundo tirará o puro? Ninguém.” (Salmos 14:3; Jó 14:4)

Ao pecador caído era impossível transpor esse abismo por seus próprios esforços e méritos. Vemos esse princípio explicado por Jesus em Lucas 16:25-26.

“Disse, porém, Abraão: Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens em tua vida, e Lázaro somente males; e agora este é consolado e tu atormentado.

E, além disso, está posto um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os que quisessem passar daqui para vós não poderiam, nem tampouco os de lá passar para cá.” (Lucas 16:25-26)

A Escritura é clara em afirmar que após a morte inevitavelmente vem o juízo. “E, como aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo,” (Hebreus 9:27)

Vemos também que cada indivíduo receberá a punição do seu próprio pecado conforme o profeta Ezequiel 18:20 “A alma que pecar, essa morrerá; o filho não levará a iniquidade do pai, nem o pai levará a iniquidade do filho. A justiça do justo ficará sobre ele e a impiedade do ímpio cairá sobre ele.” (Ezequiel 18:20)

O pecador nessa condição tornou-se incapaz de chegar-se a Deus por qualquer outro meio exceto através de Outro que pudesse salvá-lo satisfazendo a justiça do Deus Eterno. Esse Deus Santo e Justo exige a pena de morte pelo pecado. Portanto, o único modo para Ele poder perdoar qualquer um de nós pecadores, é morrer como nosso substituto. Graças a Deus Ele o fez na pessoa de Cristo Jesus.

“Porque também Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus; mortificado, na verdade, na carne, mas vivificado pelo Espírito;” (1 Pedro 3:18)

“O universo material veio à existência como resultado de Deus meramente mandar que isso ocorresse, enquanto que a salvação do homem requereu que Deus morresse” * Esse foi o caminho de salvação de Deus para o pecador destituído de Sua glória. A cura do pecado teria de passa pela cruz. Consideremos sobre uma metáfora registrada em Números no capítulo 21. Esse fato foi ocorrido no deserto após a saída dos israelitas do Egito. O povo de Israel estava em constante rebelião com Deus e repudiando a Sua provisão misericordiosa. Então o Senhor enviou “serpentes abrasadoras” entre o povo e muitos morreram. No entanto, como resultado do arrependimento do povo e da intercessão de Moisés, Deus mais uma vez deu provisão para sua salvação.

Ele ordenou a Moisés: “E disse o Senhor a Moisés: Faze-te uma serpente ardente, e põe-na sobre uma haste; e será que viverá todo o que, tendo sido picado, olhar para ela.” (Números 21:8)

A princípio parece contraditório a lógica: A cura dos feridos tivesse a semelhança daquele que havia ferido. No entanto, dá-nos uma poderosa imagem da cruz de Cristo. Os israelitas estavam morrendo do veneno das serpentes ardentes. O homem morre do veneno de seu próprio pecado. A Moisés lhe havia sido ordenado colocar a causa da morte no alto em uma haste. Deus colocou a causa de nossa morte sobre Seu próprio Filho ao levantá-Lo alto sobre a cruz. “E, como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado; Para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” (João 3:14-15)

Cristo veio “em semelhança de carne pecaminosa”, conforme Rm 8:3 , e quando Ele nos atraiu a Si mesmo em Seu corpo pendurado na Cruz, Ele foi feito “Pecado por nós”. "Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus." (2 Coríntios 5.21)

Os israelitas que cressem em Deus e “olhassem” para a serpente de bronze pendurada viveriam. O homem que crê em fé, para o Cristo crucificado, será salvo. “Olhai para mim, e sereis salvos, vós, todos os termos da terra; porque eu sou Deus, e não há outro.” (Isaías 45:22)

Segundo a Escritura, Cristo se “fez pecado” na mesma forma em que os pecadores “são convertidos na justiça de Deus”. Cristo se fez pecado com o nosso pecado, para que nós pudéssemos nos tornar justos com a Sua justiça.

Mas a cruz que é o instrumento de morte precede a vida ressurreta. “E Jesus lhes respondeu, dizendo: É chegada a hora em que o Filho do homem há de ser glorificado.

"Na verdade, na verdade vos digo que, se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto.” (João 12:23-24) A palavra de Deus proclama que há vida vinda da morte. “Insensato! o que tu semeias não é vivificado, se primeiro não morrer.” (1 Coríntios 15:36)

“A vida oferece apenas duas alternativas: crucificação com Cristo ou auto-destruição sem Ele” ** "Quem ama a sua vida perdê-la-á, e quem neste mundo odeia a sua vida, guardá-la-á para a vida eterna.” (1 Coríntios 15:25)

Aqui se faz necessário esclarecer: Não é a alma, mas a vida da alma que precisa morrer. As duas primeiras menções de “vida” nesse texto refere-se à vida “Psique”- a vida da alma, enquanto que a terceira menção de “vida” refere-se à “Zoê”- a vida do espírito. Isto quer dizer: Quem ama a sua vida (da alma) perdê-la-á, e quem neste mundo odeia a sua vida (da alma), guardá-la-á para a vida (do espírito) – a vida eterna (em Cristo).

Considerando nesse aspecto, Thomas Manton declarou: Cristãos mortificados são a glória de Cristo. Dessa forma podemos crer juntamente com o apóstolo Paulo que a vida do cristão é Cristo. Pela cruz temos a vitória contra o “EU”, substituída pela vida do “EU SOU”. “Não mais Eu, mas Cristo”, é o novo nascimento de cada filho de Deus. “Já estou crucificado com Cristo; e vivo não mais eu, mas Cristo vive em mim;” (Gálatas 2:20)

Também pela cruz temos vitória sobre o mundo. “Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo.” (Gálatas 6:14)

Pela mesma cruz temos vitória sobre a carne. “E os que são de Cristo crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências.” (Gálatas 5:24)

E finalmente, através de Cristo crucificado temos vitória contra as nossas ofensas  e o livramento contra os principados e potestades.

“E, quando vós estáveis mortos nos pecados, e na incircuncisão da vossa carne, vos vivificou juntamente com ele, perdoando-vos todas as ofensas, Havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz. E, despojando os principados e potestades, os expôs publicamente e deles triunfou em si mesmo.” (Colossenses 2:13-15)

Em conclusão devemos considerar que a cruz de Cristo é a fonte da qual emana a genuína e permanente espiritualidade de todos os regenerados por Deus. Watchman Nee sobre isso escreveu: O próprio Deus sabe o valor eterno da cruz de seu Filho. Ele manifestou a todos o eterno frescor da cruz de seu Filho. Agora ele deseja ganhar os redimidos de modo que também conheçam esse fato. A percepção do frescor eterno da cruz traz poder. A percepção do frescor eterno da cruz traz amor. A percepção do frescor eterno da cruz traz vitória. A percepção do frescor eterno da cruz traz longanimidade. Se verdadeiramente conhecermos o frescor da cruz, que inspiração receberemos dela!

“De fato, a mensagem da morte de Cristo na cruz é loucura para os que estão se perdendo; mas para nós que estamos sendo salvos, é o poder de Deus” (NTLH). Aleluia!

Notas:
¹(Donald English), ²(Vincent Cheung), ³( Lewis Sperry Chafer),*Ron Riffe; **(Cristão Anônimo);

| Autor: Levi Cândido | Divulgação: EstudosGospel.Com.BR |