Roboão - Pouco Preparo e Muita Confusão!


I REIS 12:1-24

Vários povos pelo mundo afora têm sofrido até hoje a ação despótica de governos autoritários que dispensam ao povo um tratamento indigno, onde as suas necessidades e interesses são completamente ignorados. Mesmo nos chamados governos democráticos, muitas vezes algum tipo de opressão ainda existe, como por exemplo a opressão econômica.

Muitos governos se preocupam apenas em satisfazer os seus caprichos, pouco se importando com a situação do povo. Ignoram os seus compromissos e responsabilidades e, mesmo assim, costumam se perpetuar no poder. O povo – para alguns apenas um detalhe -, muitas vezes é colocado às margens do processo, como elemento passivo.

No estudo de hoje será analisada a história de um rei que tentou implantar uma política autoritária e opressora, mas que foi surpreendido com uma revolução, cujas conseqüências desestabilizaram profundamente o seu reinado. Este rei é Roboão. Um governante despreparado, que causou muita confusão.

1. AMBIENTE HISTÓRICO

Roboão era filho e sucessor de Salomão. Ao assumir o trono, após a morte do pai, as tribos do norte aproveitaram a nova fase de governo que começava, para pedir ao novo rei uma urgente reforma tributária, pois no reinado anterior, os impostos cobrados estavam muito elevados. Esta delegação de insatisfeitos foi chefiada por um ex-oficial do exército de Salomão chamado Jeroboão, a quem o profeta Aías anunciou que mais tarde viria a reinar sobre dez tribos (11.26-35). Em face à reivindicação, a decisão foi suipreendente, pois Roboão falou duramente ao povo, dizendo: “Meu pai colocou sobre vocês um fardo pesado. Pois bem! Eu aumentarei sobre vocês este fardo! Meu pai castigou vocês com chicotes e eu castigarei vocês com ferrões” (v. 14, EP).

Diante desta postura insensata, o inevitável aconteceu: o reino foi dividido. Duas tribos – Judá e Benjamim – permaneceram com Roboão, formando o chamado Reino do Sul (Judá) com capital em Jerusalém. E as outras dez tribos formaram o chamado Reino do Norte (Israel) com capital em Siquém – posteriormente em Samaria -, e constituíram a Jeroboão seu rei.

A insensatez de Roboão quase o levou a cometer um segundo erro grave, pois ele se preparou para uma guerra civil contra as dez tribos, a fim de reunificar o reino pela força. Mas Deus impediu o derramamento de sangue (12.21-24).

Roboão começou a reinar aos 41 anos de idade e reinou durante 17 anos. Ele revelou despreparo para a função e o seu reinado foi marcado por fracasso religioso, político, econômico e militar (14.21-31).

Como aconteceu nos dias de Roboão, hoje também a carga tributária tem sido pesada ao povo e os benefícios sociais são pequenos. Todos devem lutar pela busca de uma solução mais justa.

Apesar de seus desacertos, a história de Roboão nos deixa lições que, certamente, nos ajudarão a acertar mais na vida.

2. A IMPORTÂNCIA DA EXPERIÊNCIA DOS MAIS VELHOS

Os anciãos consultados por Roboão eram homens detentores de grande experiência, homens preparados, que estavam no govemo desde os dias de Salomão e que conheciam muito bem os problemas do reino e os anseios do povo. O conselho dos anciãos foi sábio e prudente: “Se hoje te tomares servo deste povo, e o servires, e, atendendo, falares boas palavras, eles se farão teus servos para sempre” (w.6-7). Nesse conselho percebe-se um princípio básico da democracia, ou seja, um govemo onde o povo é o elemento mais importante. O governante tem o dever de servir ao povo, sendo sensível às suas necessidades e estando atento às suas reivindicações. Mas Roboão rejeitou a experiência e o conselho prudente dos anciãos. Resolveu seguir a orientação de seus colegas de juventude e tentou se impor pela força e valentia, agindo com mão de ferro contra o povo. O resultado desta política autoritária foi desastroso, como veremos mais adiante.

Em todos os aspectos da vida, a repetição de muitos erros poderia ser evitada se a opinião e a experiência dos mais velhos fossem mais valorizadas. As novas gerações precisam reconhecer que as gerações anteriores possuem um saber acumulado, o qual pode e deve ser processado e reaproveitado. Essa ponte entre a antiga e a nova geração era grandemente valorizada no contexto do Antigo Testamento (Dt 32.7; SI 22.30-31; 145.4). Por desvalorizar isto, Roboão começou mal o seu governo.

3. A IMPORTÂNCIA DAS DECISÕES JUSTAS

Se existe uma característica que deve prevalecer naqueles que exercem funções de proeminência, esta característica é a justiça. Um dos atributos de Deus é a justiça.

O governante deve ser cuidadoso, tomando sempre decisões justas. Roboão falhou nesta questão. Mostrou-se insensível ante à opressão econômica exercida sobre o povo e decidiu intensificar o jugo, agindo injustamente.

O rei pagou caro por esta política injusta, pois uma revolução foi iniciada. “Diante de uma autoridade que não o escuta, cedo ou tarde o povo acaba se revoltando e declarando: ‘Não temos nada com você’ . E Javé, de que lado está? Ele vê a exploração e a opressão, e ouve o clamor de seu povo (Ex 3.7). O versículo 24 deixa bem claro que Javé aprova a revolta do povo contra uma autoridade injusta” (Bíblia Sagrada, EP).

As decisões justas evitam o descontentamento, bem como conseqüências tão desagradáveis, conforme as apresentadas no texto. Segundo Provérbios 29.14, “o rei que julga os pobres com equidade, firmará o seu trono para sempre”.

4. A IMPORTANTIA DA FIDELIDADE AO SENHOR

Um governo bem sucedido não pode abrir mão da fidelidade ao Senhor (SI 144.15). Entretanto, não é apenas na esfera administrativa que a fidelidade ao Senhor é importante. Cada indivíduo precisa valorizar pessoalmente o compromisso com Deus e ser-lhe fiel, porque “o Senhor preserva os fiéis” (SI 31.23). Mas Roboão não deu importância a isto e tornou-se um rei infiel, fazendo o que era mau, provocando o Senhor com toda sorte de abominações dos povos que não serviam ao Senhor (14.22-24).

Com muita tristeza constatamos em nosso país, não apenas entre o povo, mas inclusive entre as autoridades, o envolvimento com a astrologia, o espiritismo, as superstições, o misticismo, enfim, práticas religiosas as mais variadas e abomináveis ao Senhor. Há muita religiosidade, mas pouca fidelidade a Deus.

Nesse contexto a Igreja tem uma desafiante missão que é ser fiel e proclamar a importância da fidelidade ao Senhor. Todo esforço humano toma-se vão quando não há fidelidade ao Senhor (SI 127.1).

As consequências da infidelidade de Roboão foram desastrosas: o reino foi dividido e se enfraqueceu. Apesar das precauções militares (II Cr 11.5-12) o Egito invadiu Jerusalém e levou todos os tesouros, e não houve paz entre os reinos do Sul e do Norte (I Rs 14.25-30).

5. A IMPORTÂNCIA DO PREPARO PARA O EXERCÍCIO DA FUNÇÃO

O que se pode perceber facilmente nos diversos atos de Roboão é a evidência da falta de preparo para a pesada missão. Afirma o teólogo Pierre Gibert que “a imperícia de Roboão, por um lado, e a ambição de Jeroboão, por outro lado”, se somaram para que acontecesse a divisão do reino, o grande fracasso político de Roboão.

A partir dos desacertos desse rei, mais evidente fica a necessidade e a importância do preparo para o exercício de uma função, seja ela qual for. Tomando por base o que faltou a Roboão, pode-se dizer que esse preparo inclui:

• Dependência do Senhor - Em vez de depender de Deus para fazer um bom governo, Roboão preferiu importar o culto pagão de outros povos, provocando assim o Senhor com tantas práticas abomináveis (14.22-24). Para que sejamos bem sucedidos precisamos depender em tudo do Senhor e aprender com o rei Davi o que Roboão não aprendeu: “O Senhor é o meu ajudador, o Senhor é quem me sustenta a vida” (SI 54.4).

• Conhecimento de causa - Parece que Roboão não tinha noção da grandeza daquele cargo a dos desafios a ele inerentes. Revelou desconhecer os reais problemas do reino, bem como as conseqüências de decisões mal tomadas. A fim de evitar problemas maiores é importante que cada um se auto-avalie antes de ocupar qualquer função. É importante também (inclusive na igreja), que as indicações e eleições recaiam sobre pessoas habilitadas, pessoas que conheçam as exigências e as implicações do trabalho a ser feito.

• Habilidade - Numa linguagem mais popular, “jogo de cintura”. Especialmente nas questões políticas, Roboãofoi deficiente no que diz respeito a habilidade. Quando falta habilidade, muitos problemas são criados. Infelizmente, isto ocorre com frequência em muitas igrejas. A habilidade que, naturalmente inclui bom senso, é fundamental para o exercício de qualquer função. Quando a insensatez prevalece, as conseqüências são sempre desagradáveis e prejudiciais.

6. DISCUSSÃO

1. Você acha que na igreja é levada a sério a questão do preparo para o exercício das várias funções? Por quê?
2. De que maneira a experiência dos mais velhos pode ser melhor aproveitada?
3. Em nosso país você acha que as autoridades têm tomado decisões justas? Explique.

| Autor: Pr Josias Moura | Divulgação: EstudosGospel.Com.BR |