A Teologia da Morte

Gênesis 2.15-17 – Hebreus 9.27

Objetivo do estudo:

Partindo do conceito médico do assunto, dar ao povo de Deus uma noção bíblica da morte, demonstrando que ela se dá quando o espírito se separa do corpo tornando-a algo verdadeiramente fascinante para o verdadeiro cristão.

INTRODUÇÃO

Em todos os debates realizados nestes estudos, é inevitável o patamar da morte. Quando falamos em vida, temos que pensar na morte. Na verdade, todos os seres vivos enfrentam a morte um dia, nem que seja como mera cessação de vida. E por isso que o texto de Hebreus 9.27 diz que ao homem está ordenado morrer uma vez...

Quando uma pessoa morre, os médicos, por lei, são obrigados a atestar que tipo de problema causou aquela morte. É o que chamamos causa mortis. A medicina legal apresenta as principais causas da morte.

Mas a ciência não vai muito longe nas questões sobre a morte. Somente a teologia pode nos levar mais longe no entendimento de tão importante assunto na trajetória das nossas vidas, e isso é, todavia, muito necessário.

Nos dois textos bíblicos acima, temos, primeiro, o registro, pela primeira vez, da palavra morte. No segundo texto, já no Novo Testamento, temos a declaração de que a morte é inevitável a todo o ser humano.


1 - ORIGEM E SIGNIFICADO DA MORTE

Na Bíblia, a palavra morte aparece pela primeira vez em Gn 2.17, quando Deus adverte ao homem sobre não comer da árvore da ciência do bem e do mal. Esse é, talvez, o registro histórico mais antigo desta experiência tão complicada da vida.

1.1. Significado no Hebraico e no Antigo Testamento

A palavra original hebraica que aparece na Bíblia quer dizer separação. Esta é a palavra fundamental para designar morte. É a separação da parte imaterial do corpo e é a separação do homem de Deus, segundo o contexto bíblico.

No texto bíblico, a morte física não aconteceu imediatamente, mas ficou determinado que ela aconteceria. Na verdade o relato da primeira morte, segundo a Bíblia, vai acontecer em Gn 5.5.

Para os judeus, a morte era a partida da alma para unir-se a outras almas do mundo subterrâneo (Sheol). Uma das explicações bíblicas mais claras está em Ec 12.7: O pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu. Um exemplo da mesma ideia está em 1 Rs 17.18-23, que fala da morte como separação da alma do corpo.

Para o povo do Antigo Testamento, a morte era algo indesejável - Dt 30.15; 1 Sm 15.32; SI 55.4.

1.2. Significado em Outras Culturas Paralelas

Na Grécia Clássica, a morte era a libertação da alma que estava aprisionada no corpo e o consequente fim da vida material, e não havia nenhum conhecimento sobre o além-túmulo.

No helenismo, que é um resultado da cultura grega entre outros povos, a morte era considerada um fenômeno da natureza, que eles não sabiam determinar exatamente como, e havia várias correntes filosóficas sobre o assunto.


1.3. Significado no Novo Testamento

Aqui, alistamos vários aspectos. A morte era um processo natural, porém não originário de Deus, mas do diabo. E o apóstolo Paulo, quando fala que a morte veio por Adão (1 Co 15.22), está querendo dizer do processo da desobediência e da morte que veio como consequência.

Em 1 Co 15.25-26, o apóstolo Paulo trata a morte como inimiga, e Jesus veio para vencê-la (1 Co 15.26; Ap 6.8; 20.13). Tiago, declara que o corpo sem espírito é morto (2.26). No incidente da queda do jovem Êutico, em Troas, enquanto Paulo proferia longo discurso, a alma do jovem ainda estava nele, por isso reviveu (At 20.7-10).

2 - O PROCESSO DA MORTE

Ao falarmos do processo da morte, temos que rever, no Antigo Testamento, a composição do ser humano, que é mais ou menos a mesma no Novo Testamento, e pode ser assim arranjado:

• No A.T., o homem é Bassar - carne - instrumento do espírito
• Animado pelo Ruah - espírito, e se torna
• Nephesh - alma vivente, vida, alma, pessoa, paixão, emoção, desejo, apetite. Em Isaías 26.9 e Jó 7.11, alma e espírito são sinônimos.
• Deus forma o Ruah dentro do ser humano, por meio de seu processo de procriação (Zc 12.1), e o preserva (Jó 10.12)
• Quando o homem morre, o Ruah volta a Deus e o Bassar volta ao pó (Ec 12.7).
• Em Ap 6.9-10, as almas dos que foram mortos clamavam. O sentido é de espírito.
• O Ruah é a parte mais importante do ser humano, e tem afinidade com o Ruah de Deus - as palavras no original são as mesmas.
• O Nephesh tem vários significados, mas muitas vezes é sinônimo de Ruah.
• O espírito provém do sopro de Deus, quando criou o ser humano (Gn 2.7; Jó 32.8; 34.14-15).
• O espírito não se extingue com a morte. Com a morte, ele se separa do corpo e toma destino diferente da matéria (Ec 12.7; 1 Rs 17.22).

No N.T., algumas passagens fixam a mesma idéia (At 20.9-10; Hb 9.27).

3 - O MEDO DA MORTE

A simples cessação da morte seria natural, se o pecado não tivesse entrado na vida do ser humano. Mas, porque o ser humano tem uma natureza espiritual, que aponta e reage para o eterno, a morte é ameaçadora. Eis alguns aspectos desta situação:

O sentido da condenação: Todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus (Rm 3.23).

O sentimento de perdas: De bens, de queridos, de prazeres, da própria alma.

O sentimento de incerteza: o que virá depois.

A expectativa do juízo: Hb 9.27. Uma ilustração: o próprio Jesus no Getsêmani: Mt 26.36-46.


4 - CARACTERÍSTICAS GERAIS DA MORTE

Por serem assuntos bastante claros no próprio texto bíblico citado, damos apenas um esboço resumido das características gerais da morte segundo a Bíblia e, consequentemente, incorporados à teologia.

1. Inevitável - Hb 9.27
2. No tempo próprio - Ec 3.2
3. Um caso de mudança de programa - 2 Rs 20.1
4. Porta de entrada para a eternidade - Lc 16.19-31
5. A imortalidade do espírito – Fl 1.19-25; 2 Co 5.1-9; 1 Pe 1.3-5
6. O destino do espírito na morte - Lc 16.19-31
7. Os dois caminhos, os dois destinos - Mt 7.13-14
8. A felicidade de ter certeza – Rm 8.18-30
9. O lucro de morrer para o cristão - Fl 1.21
10. A felicidade de morrer no Senhor - 2 Co 5.17; Ap 14.13.

5 - A MORTE E A RESSURREIÇÃO

Como no caso da morte, que a ciência não vai além da causa mortis e do atestado de óbito, a ressurreição também é assunto conhecido apenas pela teologia. No entanto, o ensinamento bíblico sobre a ressurreição, isto é, da recuperação do corpo do cristão dotado de incorrupção é algo fascinante, e que tem a ver com a própria bioética.

Nosso espaço não dá para entrarmos em detalhes da ressurreição, que deveria ser um outro assunto, em separado. Damos, assim, apenas um breve esboço para complementar o assunto principal da lição proposta.

Um dos textos bíblicos mais ricos sobre o assunto está na Primeira Epístola de Paulo aos Coríntios, capítulo 15. O apóstolo Paulo fala da ressurreição de Cristo, colocando-a como um modelo do que será a ressurreição dos crentes (1-20);

Depois ele explica como funciona o processo da ressurreição, em que um corpo físico transforma-se num corpo espiritual (21-49);

Finalmente, fala da oportunidade em que um corpo corruptível se revestirá da incorruptibilidade, que representa a vitória sobre a morte (50-58).

Na Segunda Epístola de Paulo aos Coríntios, capítulo 5, temos um resumo de tudo isto.

CONCLUSÃO

Como temos visto, a bioética trabalha com a morte até ao ponto das suas causas, para fins de óbitos. A ciência jurídica, trabalha com ela para configurar possíveis causas criminosas. Mas a teologia trabalha com a morte no sentido de preparar o ser humano para encará-la com tranquilidade, à luz da certeza de um destino certo, seguro, eterno.

Assim, para o cristão convicto, sejam quais forem as causas ou as circunstâncias da morte, ela é bem-vinda, porque ela é a porta de entrada para a vida eterna. E, ainda, ela abre a expectativa para o dia da ressurreição, que será o ponto máximo dessa caminhada para a vida eterna.


PONTOS PARA DISCUTIR

1. Qual a conexão que podemos fazer entre a ideia da morte, como separação do espírito (ou alma) do corpo, e o texto de Gn 2.7, em que Deus formou o homem e soprou-lhe nas narinas para que recebesse a vida?
2. Qual é o ponto de maior tensão nas causas do medo da morte?
3. Diante de todos os aspectos teológicos e bíblicos aqui estudados, um verdadeiro cristão pode ter medo da morte?

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AAutor: Damy Ferreira